2002 - Singles

(edição japonesa, 1999 - cortesia do blog Caetano en Detalle)

(edição brasileira, box "Todo Caetano", 2002)


01 - Samba Da Cabeça (1978)
(Caetano Veloso)

02 - Amante Amado (1978)
(Jorge Ben)

03 - Pecado Original (1978)
(Caetano Veloso)

04 - Charles, Anjo 45 (1969)
(Jorge Ben)

05 - Cada Macaco No Seu Galho (1993)
(Riachão)

06 - Pot-pourri (1968)
É Proibido Proibir
(Caetano Veloso)

07 - É Proibido Proibir II [Ambiente de Festival]
(Caetano Veloso)

08 - Yes, Nós Temos Bananas (1968)
(Alberto Ribeiro/João de Barro)

09 - Ai De Mim, Copacabana (1968)
(Caetano Veloso/Torquato Neto)

10 - Torno A Repetir (1968)
(Caetano Veloso)

11 - Pula, Pula (Salto De Sapato) (1971)
(Jards Macalé/Capinan)

12 - É Coisa Do Destino (1973)
(Moacyr Albuquerque/Tuzé de Abreu)

13 - Frevo Do Trio Elétrico (1973)
(Dodô/Osmar Macedo)

14 - O Bater Do Tambor (1978)
(Caetano Veloso)

15 - Armandinho (1981)
(Caetano Veloso)

16 - Pot-pourri (1976)
Dias, Dias, Dias
(Augusto de Campos/Caetano Veloso)
Volta
(Lupicínio Rodrigues)

17 - Let It Bleed (1974)
(Keith Richards/Mick Jagger)

18 - Medley: Por Causa De Você (Antonio Carlos Jobim/Dolores Duran) /
 Uma Casa Portuguesa (Reinaldo Ferreira/V. M. Sequeira/ Artur Fonseca) /
 Felicidade (Antonio Almeida/João de Barro) (1974)

19 - Felicidade (1974)
Lupicínio Rodrigues

Opinião da casa:
Uma coletânea de raridades lançada no Japão e que tinha tudo pra virar raridade até que foi lançada no Brasil para o box Todo Caetano de 2002 e... Virou raridade. Não só o box se esgotou e saiu de catálogo como o disco não foi lançado de forma avulsa, se tornando artigo de colecionador.
É uma boa compilação, a ordem das músicas ficou excelente. Todas as faixas foram aproveitadas nos discos de raridades dos boxes "40 anos Caetanos", esses sim, mais completos.


2002 - Muito Mais [DVD-Audio]



Este disco pode ser ouvido em multicanal, em aparelhos convencionais de DVD (DVD-Vídeo) ou naqueles especificamente destinados à execução de DVD-áudio. Permite visualizar capas, letras das músicas em cinco idiomas e cifras para violão. Primeiro lançamento em DVD-Áudio da Universal Music no Brasil, Muito Mais foi originalmente incluído como bônus na caixa Todo Caetano, lançada em 2003 em comemoração dos 35 anos de carreira do artista. Remixadas em 5.1, as 20 faixas foram escolhidas na internet pelos fãs de Caetano e constituem um resumo essencial de sua obra.

Áudio:
DTS 5.1 Digital Surround
Dolby Digital 5.1 Surround

Legendas:
Português
Inglês
Espanhol
+Cifras
01 Tropicália
(Caetano Veloso)

02 Enquanto Seu Lobo Não Vem
(Caetano Veloso)

03 Não Identificado
(Caetano Veloso)

04 Qualquer Coisa
(Caetano Veloso)

05 Odara
(Caetano Veloso)

06 O Leãozinho
(Caetano Veloso)

07 Terra
(Caetano Veloso)

08 Muito Romântico
(Caetano Veloso)

09 Sampa
(Caetano Veloso)

10 Lua de São Jorge
(Caetano Veloso)

11 Rapte-me, camaleoa
(Caetano Veloso)

12 Lua e Estrela
(Caetano Veloso)

13 Queixa
(Caetano Veloso)

14 Um Canto de Adoxé para o Bloco de Ilê
(Caetano Veloso/Moreno Veloso)

15 Luz Do Sol
(Caetano Veloso)

16 Você é Linda
(Caetano Veloso)

17 Podres Poderes
(Caetano Veloso)

18 Eu Sou Neguinha?
(Caetano Veloso)

19 Fora de Ordem
(Caetano Veloso)

20 Não Enche
(Caetano Veloso)

2002 - Eu não peço desculpa



1. Todo errado
(Jorge Mautner)

2. Feitiço
(Caetano Veloso)

3. Manjar de reis
(Jorge Mautner, Nelson Jacobina)

4. Tarado
(Caetano Veloso, Jorge Mautner)

5. Maracatu atômico
(Jorge Mautner, Nelson Jacobina)

6. O namorado / Urge Dracon
(Caetano Veloso, Jorge Mautner )

7. Coisa assassina
(Gilberto Gil, Jorge Mautner)

8. Homem bomba
(Caetano Veloso, Jorge Mautner)

9. Lágrimas negras / Doidão
(Jorge Mautner, Nelson Jacobina)

10. Morre-se assim
(Jorge Mautner, Nelson Jacobina)

11. Graça Divina
(Caetano Veloso, Jorge Mautner)

12. Cajuína
(Caetano Veloso)

13. Voa, voa, perereca
(Sergio Amado)

14. Hino do Carnaval Brasileiro
(Lamartine Babo)

Comentários:


As risadas e os sustos que as conversas com Mautner sempre provocam, excitaram minha imaginação de modo especial nos encontros que tivemos, entre outubro e dezembro de 2001, o que me levou a desejar fazer um disco em colaboração com ele. A amizade que mantemos desde que nos vimos pela primeira vez, em Londres, no começo da década de 1970, é e foi sempre muito importante para mim. Mas nunca tive tão clara em minha mente a pergunta sobre minha verdadeira ambição quanto durante esses papos mais recentes: certamente o que ambiciono não é a fama e menos ainda a riqueza "material"; será a poesia?, a política? ou... a profecia? Foi essa hipótese da ambição profética que me levou a propor a Mautner o disco conjunto. Porque Jorge é uma improvável mistura de paganista com profeta de Israel. Daí é que vem o fascínio que sua curiosa personalidade paraliterária, paramusical, e parapolítica (sua instigante personalidade tout court) exerce sobre mim. Sem dúvida, é dessa combinação que vieram suas inclinações de adolescência para liderar movimentos com características quase fascistas, o que, paradoxalmente(?), o levou aos altos círculos do Partido Comunista e, sobretudo, à produção de um romance assombrosamente forte chamado "Deus da Chuva e da Morte". A experiência, na extrema juventude, de debruçar a imaginação mítica sobre informações secretas da política pesada deu-lhe uma visão única (e mais contraditória na aparência do que na realidade) de como se joga com o poder no mundo. Uma visão que ele não cansa de reconstruir, me virar, atualizar.

Os terríveis acontecimentos de 11 de setembro de 2001, envolvendo Nova Iorque, cidade amada por ele e por mim, e repercutindo na situação de Israel, país que adoramos, e no vasto Islã, que nos fascina e nos remete à pergunta pelo destino da idéia central do povo Judeu, o Monoteísmo, nos levaram a conversas sobre o mundo, o Brasil, a vida dos homens. Nessas conversas, às vezes eu sentia medo. Pois bem: foi para espantar o medo que decidi pedir a Jorge que deixássemos tudo desaguar em canções. Depois de vê-lo, no carnaval de 2002, em Salvador, cantar o "Hino do Carnaval Brasileiro", num trio elétrico, em meio a um verão singularmente amargo para mim, entendi que o disco teria que ser feito logo que eu voltasse para o Rio. As canções que fizemos não lembram ou ilustram essas conversas de que falei. São, em geral, canções pop-paródicas: elas exibem o distanciamento que Mautner mantém em sua permanente metamorfose apaixonada. Fazem rir e podem fazer chorar. Algumas eu fiz sozinho, mas não as teria feito se não fosse para um disco com Jorge Mautner.


Tudo no disco tem a ver com o clima dele ­ ou com o clima a que ele me transporta. Hipertropicalista, porque tropicalista avant la lettre, Mautner não pode conceber o que venha a ser uma necessidade de criar-se o antitropicalismo (uma necessidade genuína que muita gente mais jovem confessa sentir ­ o que não deve ser confundido com as, talvez, mais freqüentes manifestações de mesquinhos desejos de substituição de celebridades): ele reanima as motivações elementares daquele movimento, que são, afinal, as mesmas que movem seus principais líderes: eis por que Gil foi chamado para cantar conosco o meu "Feitiço" (uma resposta ao "Feitiço da Vila" de Noel) e para pôr música nos versos de "Coisa Assassina", de Mautner. É não apenas o Gil tropicalista que está ali: é o Gil que excursionou com Mautner nos anos 1980 com o show "O Poeta e o Esfomeado". Mas Mautner é hipertropicalista também porque ele não foi, à época do movimento, um tropicalista: estes eram bossanovistas que se subvertiam; Mautner era, tal como Raul Seixas, um amante do rock'n'roll e das baladas country norte-americanas (além dos samba-canções de Adelino Moreira) que exibia (até no texto de seus primeiros livros) desprezo pela bossa nova. De fato, ao gravar com ele "Todo Errado" (de onde, afinal, saiu o título do disco), pensei muito em Raul e nas coisas da letra de "Rock'n'Raul". Assim, Eu Não Peço Desculpa é também uma continuação de "Rock'n'Raul", essa canção que me parece tão grandiosa quão mal compreendida.

Gravei "Lágrimas Negras" e o "Maracatu Atômico" porque acho esta uma obra-prima obrigatória e aquela uma das mais belas canções sobre a tristeza já feitas. E porque queria pontuar o disco com lembretes do peso da obra de Jorge. Pedi a ele que escolhesse algo meu para regravar: ele chegou ao estúdio com essa "Cajuína" que ele acreditava ser puramente nordestina e se revelou tão eslava em sua voz e em seu violino que, Kassin, que produziu o disco comigo (ou para mim), resolveu adicionar palmas e um fole (que às vezes toca uma terça menor em choque com a terça maior de um acorde recorrente). Sem Kassin, aliás, esse disco não seria o que é. Kassin, que conheci através de Moreno ­ que, por sua vez, o conheceu por intermédio de Pedro Sá ­ é um talento imenso e muito peculiar. Totalmente do mundo dos novos mini-estúdios com pro-tools, informadíssimo, inspiradíssimo, ele tem tão pouco medo do ridículo quanto Mautner ­ e a mesma capacidade de estar sempre roçando a paródia. Tem também um suingue inacreditável. Seu baixo bate no tempo de modo tão gostoso e moderno (sem fazer sotaque de baixista suingado de jazz-fusion) que parece que não tem ninguém tocando, que é o próprio tempo dizendo-se, sem um ego chato para atrapalhar. Pedro Sá, Davi, Domênico, Moreno e outros músicos convidados entravam e saíam da sala minúscula do estúdio.
     
Nelson Jacobina estava sempre lá: o grande Nelson, o Carneirinho, principal parceiro de Jorge (não só o mais freqüente como também co-autor das obras-primas). Fabiano, pilotando, só transmitia tranqüilidade, doçura e segurança. Tarta, quase que só doçura. Havia também uma foto da Luana Piovani pregada na porta, do lado de dentro do estúdio. Dizíamos que ela era a nossa padroeira: ela foi a madrinha da bateria do nosso samba. Um dia eu a levei lá. Em carne e osso. Parecia uma visão irreal. Ela ficou até o fim da sessão. Todos os rapazes ficaram extasiados. Ninguém se recuperou ainda direito. Quem canta seus males espanta. Este disco é para a gente atravessar esses tempos de homens-bomba, especulação globalizada, dengue e insegurança. Com a ajuda da lua de Jorge ­ e das Luanas ­ chegaremos vivos a um outro ambiente.
Caetano Veloso - Realease do disco Eu não peço desculpa em 2002

Opinião da casa:

Considerado um "Tropicália 3", esse disco leve tem coisas muito boas. Assim como Liminha, Kassin mantém um tom leve que cai bem na produção.Um disco muito bem gravado e completamente oposto ao anterior solo de Caetano "Noites do norte" que é denso e conceitual.
Como disse Caetano no release, é um disco pós 11 de Setembro, traz uma canção sobre o tema, "Homem bomba", que é cômica e um pouco provocativa. "O namorado" é a história invertida de "A namorada" de Carlinhos Brown, ótima sacada também. Minha favorita é "Coisa assassina" de Gil e Mautner.

As releituras ficam por conta de "Cajuína" na voz de Mautner e "Lágrimas negras" com Caetano (essa, imortalizada por Gal em 74, no disco "Cantar").
"Feitiço", inédita de Caetano, tem Gil no vocal e cita (além de "Feitiço da Vila" de Noel) o superhit da época, "Festa", de Ivete Sangalo.

2002 - Bicho Baile Show


1. Intro/ Odara
(Caetano Veloso)

2.Odara
(Caetano Veloso)

3.Tigresa
(Caetano Veloso)

4.London, London
(Caetano Veloso)

5. Na Baixa do Sapateiro
(Ary Barroso)

6.Leblon Via Vaz Lobo
(Oberdan)

7.Maria Fumaça
(Oberdan/Luiz Carlos)

8.Two Naira Fifty Kobo
(Caetano Veloso)

9.Gente
(Caetano Veloso)

10. ALegria Alegria
(Caetano Veloso)

11.Baião
(Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira)

12.Caminho da Roça
(Oberdan/Barroso)

13.Qualquer Coisa
(Caetano Veloso)

14.Chuva, Suor e Cerveja
(Caetano Veloso)


Comentários: 
Eu estava querendo fazer um show depois do disco e arranjar uma banda de peso. Isso para que o show tivesse o pique de música de peso, música mais animada, para dançar mesmo. Pensei em procurar o Oberdan (Magalhães, líder da banda Black Rio) para que ele me aconselhasse. Eu sabia que ele estava transando uma banda e um trabalho com o Dafé. E até pensei que fosse um trabalho fixo. Pensei 'de todo modo eu vou telefonar porque ele conhece todo mundo aqui no Rio'. Quando eu estava pensando nisso, ele pintou na minha casa. Trouxe a fita do elepê e pediu a minha opinião. Eu achei espetacular. Já tinha ouvido alguma coisa no disco do Dafé, mas nem sabia o nome da banda, nem nada. Sabia que eles queriam fazer uma coisa funk. Aí, Oberdan me disse que a banda era uma coisa separada, com disco e nome. Achei genial. E pensei 'seria ideal uma banda com esse nível, com esse peso, tocar comigo'. Mas não propus ao Oberdan por modéstia, pensei que não interessasse. Mas ele próprio me perguntou com quem o Gil estava tocando, pois eles queriam tocar com alguém. Comigo mesmo se eu quisesse. Eu disse, 'puxa, é exatamente o que estou procurando'. Porque o show é bem uma apresentação da banda. E eu fiz questão que fosse assim, porque eles são músicos muito bons. No Brasil tem muito instrumentista bom, muito músico bom, e não tem muito mercado. E quanto mais a gente pode trabalhar nesse sentido, melhor. Esse aspecto tem muita importância para mim.

O sentimento deles é muito jazz-Rio. Quer dizer, samba e jazz carioca, que é a formação musical de quase todos eles. Agora, o resultado é de nível elevadíssimo. Musical, profissional e sob todos os pontos de vista. E cada um deles individualmente, é um grande músico. Então, eu conseguir, hoje em dia, conviver numa boa, num trabalho com esses músicos é uma coisa espetacular. E eu acho que é espetacular para o ambiente. O que eu vi ontem na estreia, o que eu pretendo continuar vendo na temporada, tanto aqui como nos outros lugares em que a gente se apresentar, é que isso é uma coisa boa. Uma coisa que relmente é produtiva para o ambiente de música no Brasil.
Caetano Veloso, Revista da Música - Julho/1977 

Opinião da casa:

Primeiro é impressionante o surgimento desse show que tem um áudio incrível, tecnicamente falando. 
Segundo por que não há muitos  registros ao vivo dos shows dos discos de Caetano desde Jóia/Qualquer coisa até Estrangeiro. 
Esse show que foi super criticado tem muita coisa interessante. A forma como canções de outros discos entra na sonoridade da Banda Black Rio é curiosa. Começando pelo hino "Odara", feita com esse clima da era Discotèque, e passando por outras mais inesperadas como "Qualquer coisa" e "London, London". 
Engraçado notar os urros de Caetano para a platéia, numa tentativa um pouco assustadora de cativar a platéia. 
Esse disco seria um bootleg se não tivesse sido lançada oficialmente em 2002, no cobiçado box "Todo Caetano".

2001 - Noites do Norte Ao Vivo

Capa da edição nacional

Capa da edição internacional, com o título alternativo "Live in Bahia" 


CD 1

1. Two Naira Fifty Kobo
(Caetano Veloso)

2. Sugar Cane Fields Forever
(Caetano Veloso)

3. 13 De Maio
(Caetano Veloso)

4. Zumbi
(Jorge Ben)
5. Haiti
(Caetano Veloso, Gilberto Gil)

6. O Último Romântico
(Lulu Santos, Antônio Cícero, Sergio De Souza)

7. Araçá Blue
(Caetano Veloso)

8. Nosso Estranho Amor
(Caetano Veloso)

9. Escândalo
(Caetano Veloso)

10. Cobra Coral
(Caetano Veloso, Wally Salomão)

11. Como Uma Onda (Zen Surfismo)
(Lulu Santos, Filho Nelson Candido Motta)

12. Mimar Você
(Gilson Babilônia, Alain Tavares)

13. Magrelinha
(Luiz Melodia)

14. Rock' N' Raul
(Caetano Veloso)

15. Zera a Reza
(Caetano Veloso)

CD 2

16. Dom De Iludir / Tapinha
(Caetano Veloso) / (Naldinho)

17. Caminhos Cruzados
(Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça)

18. Tigresa
(Caetano Veloso)

19. Trem Das Cores
(Caetano Veloso)

20. Samba De Verão
(Paulo Sergio Valle, Marcos Valle)

21. Menino Do Rio
(Caetano Veloso)
22. Meu Rio
(Caetano Veloso)

23. Gatas Extraordinárias
(Caetano Veloso)

24. Língua
(Caetano Veloso)

25. Cajuína
(Caetano Veloso)

26. Gente
(Caetano Veloso)

27. Eu E A Brisa
(Johny Alf)
28. Tropicália
(Caetano Veloso)

29. Meia Lua Inteira
(Carlinhos Brown)

30. Tempestades Solares
(Caetano Veloso)

31. Menino Deus
(Caetano Veloso)

Comentários:
Há muita reação na imprensa contra o hábito de fazerem-se discos nascidos de shows que nasceram de discos. Pessoalmente, tenho mantido uma opinião diferente. Por uma lado, gosto do calor da música registrada fora dos estúdios; por outro, considero saudáveis as revisitações de repertório e as reiterações de estilos que esse tipo de disco favorece. Naturalmente, como de qualquer fonte, de tal procedimento podem surgir obras muito boas, obras aceitáveis e obras más. Entendo que a reação contrária se justifica pelo risco de comercialismo banalizante. Mas eu gostaria de ver um rigor crítico maior por parte de quem exibe tanta antipatia pelo mercado, pelo sucesso e pelas gravadoras. Sendo um medalhão transviado, eu tenho feito, em minha própria carreira, escolhas singulares quanto a isso. 
Como ninguém manda em mim (fora de casa), teimosamente faço discos de shows de discos, mas não faço como se espera que eu faça. O de Fina Estampa estava alicerçado em inéditas fortes: "Cucurrucuru Paloma", "Lábios que bejei", "Você esteve com meu bem", "O samba e o tango" etc. O Livro ("Prenda Minha"), na ausência total de canções do disco de estúdio.
Agora, Noites do Norte. Bem, desta vez terminei aprovando uma documentação completa do show. É o disco de show mais disco-de-show que já fiz. Não só está lá todo o repertório (e na ordem em que entra em cena!) mas também toda a impureza técnica das apresentações do show em sua primeira fase, quando ele ainda não estava tão maduro quanto agora. Como no caso de Prenda minha, Circuladô ou Fina Estampa, não fiz pessoalmente nenhum trabalho pós-produção em estúdio para corrigir o que não me parecesse bem em minhas atuações vocais. Só que naqueles outros discos houve uma seleção: como se tratava de parcela pequena do repertório total, dava pra escolher o que estava mais limpo.
Houve também, naqueles casos, uma providencial mudança na ordem das canções. Neste aqui vai tudo. Para mim, o disco é um tesouro por causa do trabalho dos instrumentistas. O som que resulta das amarras das guitarras de Davi e Pedrinho com os couros de Cesinha, Márcio, Junior, Du e Jó - no diálogo singular que esse som mantém com o arco musical de Jaques Morelenbaum - é uma máquina poderosa. Ela produz enlevo e libertação.

Lembro dos ensaios: todas as minhas idéias se traduziam com assustadora presteza em levadas e timbres da guitarra de Davi; precisão vigorosa por parte dos percussionistas (com Márcio sempre liderando); em intervenções sábias de Pedrinho; em perfeita segurança por parte de Cesinha - tudo isso com a interpretação geral classificadora de Jaques, sempre explicando o que estava se passando musicalmente e mostrando como fazer com que tudo se passasse com mais clareza e consciência. Ele conseguia isso falando com calma e - o que é mais eficaz - tocando com inspiração. Foi também Jaquinho quem, depois de organizar nossa mente musical nos ensaios, entrou em estúdios e dirigiu a produção, orientando a recriação dos sons na mixagem.

Como gravamos no dia do meu aniversário, eu tive (e posso dar aos compradores do CD) Lulu Santos de presente. Assim, embora peça desculpas por eventuais demonstrações de inabilidade de minha parte, aconselho a compra e a audição desse CD duplo e extensíssimo, onde, sobretudo por causa dos instrumentistas, se pode entrar em contato com uma milagrosa parte do que de mais vivo se faz em música no Brasil.
Release do álbum "Noites do Norte ao vivo" - Caetano Veloso Novembro 2001  
 
Opinião da casa:

Noites do Norte Ao Vivo é o maior disco ao vivo de Caetano, mais extenso e conceitual. É o show que passa a incorporar a sonoridade do disco. Se em Livro/Prenda Minha a idéia era a uma percussão baiana sofisticada com os metais de cool jazz, aqui é um som mais seco de guitarra e cello com percussão pesada.
Dividido em duas partes, o cd 1 explora o universo do disco "Noites do norte" . Caetano recupera "Two naira fifty kobo" - abertura do show em ótimo arranjo - "Haiti" em sua versão mais densa, "Araçá blue" e "Escândalo" (lançada em 1981 em disco de mesmo nome, na voz de Ângela Rorô) ao violão. Há também a participação de Lulu Santos.

O cd 2 mistura antigos hits com lados-b e é mais sedutor. Começando com "Dom de iludir" e seu polêmico medley com o funk "Tapinha", que rendeu algumas vaias durante a temporada do show, Caetano revive e melhora antigas canções de seu repertório: "Língua", "Tigresa", "Gente" e "Menino Deus". Também tem a canção feita para Cássia Eller, "Gatas extraordinárias", gravada por ela no mesmo ano em "...Com você meu mundo ficaria completo". 

É o disco favorito da minha irmã, de forma que esse post é dedicado a ela. <3

2000 - Noites do Norte

 1. Zera a reza
(Caetano Veloso)

2. Noites Do Norte
(Caetano Veloso, Joaquim Nabuco)

3. 13 de Maio
(Caetano Veloso)

4. Zumbi
(Jorge Ben Jor)

5. Rock'n'Raul
(Caetano Veloso)

6. Michelagelo Antonioni
(Caetano Veloso)

7. Cantiga de boi
(Caetano Veloso)

8. Cobra coral
(Caetano Veloso, Waly Salomão )

9. Ia
(Caetano Veloso)

10. Meu Rio
(Caetano Veloso )

11. Sou seu sabiá
(Caetano Veloso)

12. Tempestades solares
(Caetano Veloso)


Comentários:  
Você costuma dizer que se interessa pelo processo de criação a partir da palavra cantada, como se letra e música fossem uma unidade. Em “Noites do Norte” existe um trabalho conceitual muito forte que parece partir da palavra escrita (Joaquim Nabuco) ou a partir do som (o trabalho com a percussão). Como foi o processo  de gestação desse
disco?

Caetano
– Meu plano inicial para o disco que terminou se chamando “Noites do Norte” era trabalhar a partir da combinação de voz e percussão. Queria fazer um disco mais de sons que de canções. Portanto, não estava pensando em partir da palavra cantada. Mas o livro de Joaquim Nabuco caiu em minhas mãos e eu não pude deixar de musicar aquele trecho sobre a escravidão. Daí voltei às canções: fiz “13 de Maio” e “Cantiga de boi”; decidi regravar “Zumbi” de Jorge Benjor e a 
minha.
“Sou seu sabiá”; enfim, voltei à palavra cantada (digo que sou escravo das canções). Mas os experimentos de voz e percussão permeiam todo o disco e lhe dão o sabor. Um sabor que é feito da tensão entre essa doce
escravidão às canções e alguma liberdade tateante.
“Noites do Norte” é um disco muito variado, em gêneros, em registros, em sonoridades, em temas. Isso foi uma busca ou é resultado de um trabalho que aponta simultaneamente para diferentes alvos? Isso tem a ver com a sua idéia de fazer música com “uma visão de cineasta”? 
Caetano – Cineasta, sim. “Noites do Norte” é, de fato, variado, mas muitos dos meus discos o são. Acho que isso se deve ao fato de que viso alvos diferentes ao mesmo tempo, mas também à idéia de que várias coisas diferentes justapostas podem criar uma unidade em outro nível, como na montagem cinematográfica. Sempre penso o disco como um filme. O mesmo posso dizer dos meus shows: são como um filme para mim.
Entrevista a Violeta Weinschelbaum, 2001


Zera a Reza
Eu ia fazer esse disco e só pensava nos sons, não pensava nas músicas. Fui ao estúdio procurando sons e queria começar com a voz. Mas desde que tive uma ligeira gripe, decidi começar com "Zera a Reza", que eu já queria fazer com vozes sobrepostas. Eu decidi gravar primeiro a bateria e colocar a guitarra no topo. Liguei para o Cleber, que é o baterista da banda Afro Reggae, da favela Vigário Geral, que toca hip-hop. Na época ele tinha 16 anos de idade. Eu queria colocar uma guitarra bossa nova / samba no topo do hip-hop.

"Zera a Reza" é uma música contra a religião, com gosto de festa. Eu fui influenciado alguns ouvindo um disco de D'Angelo, que se sobrepõe a várias vozes. Eu não sou musical o suficiente para fazer nada perto do que ele faz, mas há a presença disso. Eu tinha o desejo de misturar vozes sobrepostas, um tambor de hip-hop e um violão de samba de João Gilberto.

Noites do Norte
 Eu compus no violão, lendo o livro. Quando vi que tinha conseguido criar uma peça musicalmente coerente, contendo o texto sem cortes, fiquei muito satisfeito, e já pensava que queria que a orquestra viesse, mas submetida a um diálogo com alguma percussão pesada, o que cria uma tensão, contrastando com a orquestra. Eu também queria que a música tivesse algo da seresta brasileira, além da música clássica do século XIX, um pouco ligada à ópera.
Senti um pouco do mundo de Joaquim Nabuco, um estudioso brasileiro do século 19, e algo da música clássica brasileira considerada nacionalista.


13 de Maio
Princesa Isabel tem sido negligenciada como uma figura histórica, no desdobramento da abolição. Há muito tempo atrás, ela era uma figura cujo nome rapidamente me trouxe uma ideia forte, tanto que os racistas, quando queriam humilhar uma pessoa negra, diriam, comentando qualquer ato de uma pessoa negra: “Isso é culpa Princesa Isabel; a culpada é a Princesa Isabel ”. Era uma forma de falar usada com frequência no Brasil. Os negros de Santo Amaro comemoram a abolição ainda hoje em 13 de maio, mas desde a década de 1970, que vem mudando: fortemente influenciados pelo movimento negro norte-americano, outros negros colocam Zumbi no lugar da figura a ser venerada pelos brasileiros negros. A vela da princesa Isabel foi apagada. 

Concordo totalmente com a elevação de Zumbi a este lugar, mas sempre gostei da Princesa Isabel, e esse sentimento cresceu muito ao ler Joaquim Nabuco. Quis escrever uma canção sobre as festividades dos negros de Santo Amaro em 13 de maio. Antes de começar a fazer esse disco, meu filho Moreno acabara de fazer o dele. Eu achei tão lindo; as músicas, bem como a engenharia de som. Fiquei impressionado com o quanto ele sabia sobre isso - eu não sabia que ele sabia tanto - então pedi sua ajuda. "13 de Maio" é uma música em 5/4. Moreno fez de tudo: o arranjo, tocou toda a percussão, tocou a guitarra base, pediu ao Davi Moraes para tocar um solo de guitarra e ainda colocou um surdo em 2 ao longo dos 5.

Zumbi

No álbum, "Zumbi" vem logo após a música sobre a princesa Isabel. Esta é a única música no álbum que não é uma composição minha. É de Jorge Ben. Por sorte, ele é o compositor brasileiro mais regravado de todos no Brasil.

"Zumbi" tinha sido uma música importante para mim desde que apareceu pela primeira vez. Foi apresentado no show "Phono 73". Era novo; não tínhamos ideia de que aquela música existia. Foi a primeira vez que ele cantou. Eu estava na platéia e não conseguia acreditar. “Aqui onde estão os homens” - foi uma maneira de colocar as coisas! Há também frases que parecem ter sido retiradas de livros de história, nomes de países, de onde os africanos foram importados para serem escravizados. E aí tem aquela cena: “De um lado cana de açúcar / Do outro lado o cafezal / Ao centro os senhores sentados, / Vendo a colheita do algodão branco sendo colhida por mãos negras”, dando nomes ao brasileiro monoculturas, tudo dentro de uma paisagem. E dizendo “aqui onde estão os homens”. Nestes momentos considero Jorge Ben um grande poeta. Em seguida, repetiu: "Eu quero ver, eu quero ver, eu quero ver, quando Zumbi chegar." Quando ele disse isso, que coisa maravilhosa. Subi no palco e coloquei a cabeça aos pés do Jorge Ben. 
Esta colocação da possibilidade da chegada de Zumbi no futuro ... Isso é uma coisa linda, porque Zumbi ainda não chegou, a escravidão não foi embora ainda, a abolição ainda não terminou. 

Michelangelo Antonioni
Compus a música imaginando todos os elementos do arranjo, que dei ao Jaquinho Morelenbaum. Eu queria que fosse uma orquestra quase minimalista, mas dinâmica, como fizemos com "Cucurucucu Paloma" e outras coisas na Fina Estampa; mas em um determinado momento, naquele momento específico como está no disco, um baixo e um vibrafone entrariam. Como nos grupos de jazz moderno no início dos anos 60 e final dos anos 50, exatamente no período em que vi os primeiros filmes de Antonioni. Eu acho que soa como esses filmes: meio jazz, quarteto de jazz moderno. Eu escrevi as letras em italiano, que é uma língua que mal falo. 

Eu escrevi alguns versos, para ficar tudo correto. Eu os enviei para Antonioni, para que ele pudesse dizer se ele aprovava. Fiquei muito feliz em receber uma resposta dizendo que ele aprovou com entusiasmo, e aprovou o italiano.

Cantiga de Boi
Eu estava me prometendo escrever apenas músicas cujas letras eram diretas e muito inteligíveis, que eu mesmo sabia o que estava sendo dito. Nada como "Qualquer Coisa", que tem muitos jogos de linguagem, e eu não sei exatamente o que está sendo dito lá. Eu sei todo o significado, mas o texto não é explícito, não é lógico. "Cantiga do Boi" apareceu para mim irresistivelmente. 

Fui a um show de Margareth Menezes em Salvador durante o verão. Antes de cantar, o grupo Malê Debalê surgiu. Eles todos chegaram, nesta apresentação, com um CD amarrado às suas testas. O lado brilhante foi revelado, o que é iridescente, onde você vê o espectro de luz. Fiquei impressionado e saí de lá achando que era como uma forma de ornamentação folclórica. Lembrei-me de um boi do bumba-meu-boi que tinha espelhos em forma de círculo entre seus chifres. Lembrei-me de José Miguel Wisnik, seu filho Guile e de Vadim, que escreveu um artigo sobre a cidade e o boi em minhas músicas. Há boi em "Aboio", uma música da Tropicália 2. 
Eu disse: “Meu Deus, essa coisa voltando por causa dessa visão do Malê Debalê!” Mas deixei passar. Quando o carnaval chegou, eu estava assistindo ao bloco afro desfile no Campo Grande, e lá veio o Malê Debalê, o bloco inteiro, milhares de pessoas, todas com CDs na testa. Isso me emocionou tanto, que o CD e a música começaram a aparecer dessa maneira. Existem algumas imagens, algumas rimas que eu não queria fazer, rimas internas, algo que esteticamente eu queria rejeitar, mas eu não pude resistir, eu não pude controlar. 
Fiz tudo com rimas internas. Perde o significado, mas mantém a sensação. Acabei fazendo na gravação as mais belas experiências sonoras, com a Tamima tocando um trompete australiano feito de PVC. Eu também usei uma amostra da trilha sonora do filme Vidas Secas, o som do carrinho de boi passando. Eu dediquei a música para Zé Miguel, Guile e Vadim.

Cobra Coral
é um poema de Waly Salomão, que se encontra no seu livro de poemas Tarifa de Embarque. Eu amei esse poema. Quando vi, tive o desejo de colocá-lo em música. 

Liguei para Lulu Santos e Zélia Duncan para cantarem comigo. Também tinha chamado Marisa Monte, mas no último momento ela cancelou. De certa forma, era melhor, porque as três vozes - a minha, a de Lulu e a de Zélia - soam como as de três homens. Zélia pode cantar muito profundamente. É muito interessante que Lulu, Zélia e eu nos parecemos com um coro masculino. 
Escrevi o arranjo para trombetas. Eu não escrevi, porque não posso escrever música: eu ditei todas as notas para o Luiz Brasil. 

Ia
 é uma música totalmente bossa nova: lenta, estranha, uma canção de depressão, de tristeza. Eu ia tocá-lo apenas no violão, mas depois do "Rock 'n' Raul", tive a idéia de convidar o Pedro Sá também, com os sons e tons do rock and roll, e Domênico, que às vezes dobra o ritmo dos tambores. 

Parece que você está ouvindo drum-and-bass à distância.

Meu Rio
 é uma música sobre minhas lembranças do Rio de Janeiro, quando vim morar aqui aos 13 anos de idade. Eu vivi o ano de 1956, em Guadalupe. Este bairro foi então chamado de Fundação. A casa onde eu morava ainda está lá, de vez em quando eu vou para ver meus parentes, meus primos. Durante este período eu ia à Rádio Nacional para ver os cantores. Eu ia à cidade com minha Inha e ia com frequência a Niterói para nadar no Saco de São Francisco, que era o meu lugar favorito para ir à praia. Eu adoro Niterói ainda hoje. Então, essa é uma música sobre o Rio, "meu Rio" no sentido de que é o Rio como eu o vi. 

Liguei para o Dudu Nobre para tocar cavaquinho, um cavaquinho totalmente carioca para encaixar na música.

Sou Seu Sabiá
 é uma canção que escrevi para Marisa Monte. Ela gravou, muito bem, mas eu queria cantar no meu disco, para expor mais a sua melodia. No lugar de "Sou Seu Sabiá", quase cantei "Você Não Gosta de Mim", que Gal gravou. Já havia "Ia" e "Tempestades Solares", muita música que parece ter sido feita por um sujeito que sofre por amor, e seria mais uma, triste demais. Preferi gravar "Sou Seu Sabiá".

Tempestades Solares
 é uma canção de drama íntimo e amoroso. 

Diferentemente de Djavan e Chico Buarque, que disseram em entrevistas que suas músicas não tinham nada a ver com suas vidas, para ser sincero, eu quase poderia dizer o contrário: praticamente todas as minhas músicas são autobiográficas, e eu não posso dizer que "Tempestades Solares " é diferente. 
Fiquei animado com a gravação, porque eu ainda queria uma oportunidade para fazer o que eu tinha pensado em fazer no álbum, que era usar muitos vibratos, exageradamente, e conseguir sons estranhos da voz junto com a percussão e alguns violões. Pedi ao Luiz Brasil para tocar num estilo flamenco justificando ainda mais o vibrato.

Produção do disco

Na época da Outra Banda da Terra, não havia produtor. Para Noites do Norte, era o mesmo, exceto que eu produzo mais do que produzi na época. Eu decidi mais como eu queria que as coisas fossem. É um registro que é mais meu, feito mais por mim. Pedi ao Jaquinho Morelenbaum para me ajudar, enquanto ele estava no Brasil - ele estava se preparando para sair em turnê - em algumas faixas, não apenas com os arranjos, mas também no estúdio e na produção. Ele está lá como co-produtor dessas faixas. Meu filho Moreno me ajudou em "13 de Maio". 

O Luiz Brasil me ajudou muito, com os arranjos e a escolha dos tons: ele foi o consultor musical para a finalização do disco depois que o Jaquinho partiu para a turnê. Contei muito com a ajuda de Moreno e Pedro Sá, porque eles entendem muito sobre o lado técnico da engenharia de som. 
Eles realmente entenderam o que eu queria alcançar, e eles tiveram sugestões para me aproximar disso, o que me faz sentir cada vez mais conectado a ele, como o autor de todos os sons neste álbum.
Caetano Veloso - Release do disco "Noites do Norte" - Nonesuch Records

Opinião da casa:

Um bom álbum, pouquíssimo ouvido e comentado. Não tem um hit, uma música que tenha tocado na rádio, nada. Mas é um ótimo disco com sonoridade envolvente e letras geniais como "Cantiga de boi" e "Zera a reza", com um rap anti-enganação religiosa no fim.
"Rock'n'Raul" inicia a troca de farpas entre Caetano e Lobão por conta do verso que diz "E o Lobo bolo". Lobão respondeu com a música "Para o mano Caetano" (no disco "Uma odisséia pelo Unverso Paralelo", 2001) e a última rixa do século foi até capa de revista.Foi eleita como single para promover o disco.
Aqui também tem "Ia", uma espécie de proto-Cê, a agressiva "Tempestades solares" e a reminiscência meio "Sampa" - coleção de memórias pessoais sobre a cidade -  de"Meu Rio".

Por fim, uma versão percussiva de "Sou seu sabiá", canção feita para Marisa Monte, que ganhou uma linda gravação no disco "Memórias, crônicas e declarações de amor" (2001).

1999 - Omaggio a Federico e Giulietta

1. Que não se vê
(Nino Rota, T. Amurri - versão: Caetano Veloso)

2. Trilhos urbanos
(Caetano Veloso)

3. Giulietta Masina
(Caetano Veloso)

4. Lua lua lua lua
(Caetano Veloso)

5. Luna rossa
(V. de Crescenzo, A. Vian)

6. Chega De Saudade
(Antônio Carlos Jobim , Vinicius de Moraes)

7. Nada
(Dames, Sanguinette)

8. Come prima
(M. Panzeri, S. di Paola, S. Taccani)

9. Ave-Maria
(Caetano Veloso)

10. Chora Tua Tristeza
(Oscar Castro Neves, Luvercy Fiorini)

11. Coração vagabundo
(Caetano Veloso)

12. Cajuína
(Caetano Veloso)

13. Gelsomina
(Nino Rota, M. Galdieri)

14. Let's face the music and dance
(Irving Berlin)

15. Coração materno
(Vicente Celestino)

16. Patricia
(Damaso Peres Prado)

17. Dama das camélias
(João de Barro, Alcyr Pires Vermelho)

18. Coimbra
(Raul Ferrão, José Galhardo)

19. Gelsomina
(Nino Rota, M. Galdieri)


Comentários: Eu estava em Nova Iorque mixando “Circuladô” quando recebi a carta de Maddalena Fellini me sugerindo, em nome da Fondazione Fellini, que eu fizesse uma apresentação em Rimini em homenagem a Federico e Giulietta. A irmã de Federico me contava que Giulietta chegara a conhecer a canção que eu escrevera sobre ela e que ficara tocada. Maddalena deplorava (quase tanto quanto eu) que o casal tivesse morrido sem que um encontro pessoal nos tivesse sido concedido pelo acaso, o destino, Deus, os deuses. Ela tinha lido minhas declarações à imprensa italiana de amor à poesia do cinema de Masina/ Fellini. 

Amor que se destacava como algo especial dentro da minha admiração pelo cinema italiano dos anos 40, 50 e 60. O fato disso encontrar resposta no misterioso amor de alguns italianos famosos e anônimos pela minha música, levou-a a considerar a oportunidade de um tal concerto. A carta me arrebatou. 
No dia em que finalmente cheguei a Rimini para cantar, minha voz apresentou um tipo de problema que eu até então desconhecia: bem no fundo da laringe, algo quase me impedia de emitir qualquer som, embora os sons que, com um incômodo sem dor, eu conseguia produzir, saíssem consideravelmente límpidos. De modo que o controle da afinação e sobretudo das intensidades se limitava exasperantemente. Estava frio e úmido em Rimini, mas havia também uma emoção grande demais em mim. Essa emoção envolvia tristeza, orgulho exaltado e vagos medos ligados ao sentido da minha vida.
Caetano Veloso  - Realease do disco "Omaggio a Federico e Giulietta" em 1999
Opinião da casa:

Um bom disco que mostra toda reverência de Caetano a Felllini. O show é excelente e liga muito bem a trajetória de Caetano com o cinema, ainda em Santo Amaro, passando pela importância da Bossa Nova nesse conjunto de descobertas da juventude dos anos 50 (a terceira gravação de "Chega de saudade") e a sua  própria trajetória artística com letras que se pautam muito por essas imagens cinematográficas (ninguém explorou essa vertente tão bem quanto Caetano).

Surgem as belas releituras de "Giulieta Masina", "Lua lua lua lua" (numa linda versão!), "Cajuína" e "Trilhos Urbanos" - todas simples mas com uma sonoridade boa, de banda, que deixa a vontade que Caetano regrave mais coisas antigas - e inesperadas - ao vivo. Destaque para a versão inédita "Que não se vê" e para a divertida "Patrícia".

1999 - Orfeu [Trilha Sonora Original]



1. O enredo de Orfeu (História do carnaval carioca] 
(Caetano Veloso/Gabriel O Pensador)
Voz: Toni Garrido, Caetano Veloso e Gabriel O Pensador - Bateria da Escola do Samba Unidos do Viradouro

2. Sou você (Caetano Veloso)
Voz: Toni Garrido

3. Valsa de Eurídice 
(Vinícius de Moraes) - Orquestra

4. Cântico à natureza 
(Nelson Sargento/Jamelão)
Vozes: Zezé Motta e Nelson Sargento

5. Manhã de carnaval (Luis Bonfá/Antônio Maria)
Voz: Toni Garrido

6. Os cinco bailes da história do Rio 
(Silas de Oliveira/D. Ivone Lara/Bacalhau)
Voz: Caetano Veloso

7. A felicidade 
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Voz: Maria Luiza Jobim

8. Se todos fossem iguais a você 
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Voz: Caetano Veloso

9. Sou você (Asa delta) 
(Caetano Veloso) - Orquestra

10. A polícia sobe o morro (Caetano Veloso) - Improvisação: Heitor TP/Ramiro Mussoto

11. Valsa de Eurídice / Lua, Lua, Lua [Santa Lua]
 (Vinícius de Moraes/Caetano Veloso) - Orquestra

12. Alucinação 
(Caetano Veloso) - Orquestra

13. Eu e meu amor [Carmen no desfile]
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)- Orquestra

14. Orfeu leva Eurídice 
(Caetano Veloso) - Orquestra

15. Batuque final (Caetano Veloso) - Improvisação: Ramiro Mussoto

16. Mira mata Orfeu 
(Caetano Veloso) - Orquestra

17. Orfeu dorme 
(Caetano Veloso) - Orquestra

18. Sou você [Rádio remix] 
(Caetano Veloso) (bônus track)

19. O enredo de Orfeu [Radio remix] 
(Caetano Veloso)(bônus track)

Produzido por Caetano Veloso
Co-produzidor por Arto Lindsay e Jaques Morelenbaum




1999 - Sozinho Maxi Single


1. Sozinho - Hitmakers Classic Mix
 (Peninha)
2. Sozinho - Hitmakers Classic Radio Edit
(Peninha)
3. Sozinho - Caêdrum 'n' bass
(Peninha)


1999 - João Gilberto e Caetano Veloso - Ao vivo em Buenos Aires


João Gilberto
eu vim da bahia (Gilberto Gil) 1965 menino do rio (Caetano Veloso) 1979 de convesra em conversa (Lúcio Alves/Haroldo Barbosa) 1947 una mujer (Paul Misraki/Sixto Pondal Ríos/Carlos Olivari) pra que discutir com madame? (Haroldo Barbosa/Janet de Almeida) 1956 rosa morena (Dorival Caymmi) 1942 eclipse (Margarita Lecuona) farolito (Agustín Lara) 1934 isso aqui o que é? (Ary Barroso) 1942 . João Gilberto e Caetano Veloso
coração vagabundo (Caetano Veloso) 1967 . Caetano Veloso pra ninguém (Caetano Veloso) 1997 trilhos urbanos (Caetano Veloso) 1979 manhatã (Caetano Veloso) 1997 você é linda (Caetano Veloso) 1983 lamento bonricano (Rafael Hernandez) 1930 luz do sol (Caetano Veloso) 1986 João Gilberto e Caetano Veloso acontece que eu sou baiano (Dorival Caymmi) 1943 avarandado (Caetano Veloso) 1967 bahia com h (Denis Brean) 1947 besame mucho (Consuelo Velázquez) 1941 meditação (Antônio Carlos Jobim/Newton Mendonça) 1959
doralice (Dorival Caymmi/Antônio Almeida) 1945 ave maria no morro (Herivelto Martins) 1942 o pato (Jaime Silva/Neusa Teixeira) 1960 desafinado (Antônio Carlos Jobim/Newton Mendonça) 1958 chega de saudade (Antonio Carlos Jobim/Vinícius de Moraes) 1958 garota de ipanema (Antonio Carlos Jobim/Vinícius de Moraes) 1960


1998 - Prenda Minha Ao Vivo


CD
1. Jorge da Capadócia
(Jorge Ben Jor)

2. Prenda Minha
(Domínio público)

3. Meditação
(Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça)

4. Terra
(Caetano Veloso)

5. Eclipse oculto
(Caetano Veloso)

6. Texto de "Verdade Tropical"
(Caetano Veloso)

7. Bem devagar
(Gilberto Gil)

8. Drão
(Gilberto Gil)

9. Saudosismo
(Caetano Veloso)

10. Carolina
(Chico Buarque)

11. Sozinho
(Peninha)

12. Esse cara
(Caetano Veloso)

13. Mel
(Caetano Veloso, Waly Salomão, Willie Cólon)

14. Linha do Equador
(Caetano Veloso, Djavan)

15. Odara
(Caetano Veloso)

16. A luz de Tieta
(Caetano Veloso)

17. Atrás da Verde-e-Rosa só não vai quem já morreu
(David Correa, Paulinho Carvalho, Carlos Sena, Bira do Ponto)

18. Vida boa
(Armandinho, Fausto Nilo)



DVD
1 - Minha Voz, Minha Vida
(Caetano Veloso)

2 - Jorge De Capadócia
(Jorge Ben Jor)

3 - Prenda Minha
(D.P)

4 - Meditação
(Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça)

5 - Terra
(Caetano Veloso)

6 - Eclipse Oculto
(Caetano Veloso)

07 - Texto Verdade Tropical
(Caetano Veloso)

08 - Drão
(Gilberto Gil)

09 - Saudosismo
(Caetano Veloso)

10 - Carolina
(Chico Buarque)

11 - Sozinho
(Peninha)

12 - Esse cara
(Caetano Veloso)

13 - Mel
(Caetano Veloso)

14 - How Beautiful Could a Being Be
(Moreno Veloso)

15 - Linha do Equador
(Caetano Veloso, Djavan)

16 - Texto de Verdade Tropical/ Doideca
(Caetano Veloso)

17 - Odara
(Caetano Veloso)

18 - Não Enche
(Caetano Veloso)

19 - A Luz de Tieta
(Caetano Veloso)

20 - Os passistas
(Caetano Veloso)

21 - Atrás da Verde Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu
(David Correa, Paulinho Carvalho, Carlos Sena, Bira do Ponto)



Comentários: 

O que é esse show?
CV: Nasceu do que me interessou quando fiz o disco “Livro”. Tem muitas canções do disco, com o tipo de arranjo mais ou menos adaptado pra formação que a gente tem aqui. Praticamente a mesma percussão e os arranjos, que lá tinham uma orquestra grande, foram reduzidos pra três metais e um cello, mas são aqueles arranjos. A percussão é basicamente a mesma.
É embrião de uma coisa que fiquei interessado em fazer. Foi se aprofundando desde que eu estava fazendo a excursão do “Fina estampa” pela Europa: unir o gosto das orquestrações da fase do ‘cool’ do jazz com a rítmica das ruas da Bahia de hoje.
Eu adoro axé music, essa música de carnaval da Bahia. Acho das coisas mais interessantes que aconteceram no Brasil. A música de carnaval do Rio de Janeiro, as grandes marchinhas de carnaval desapareceram. Há os sambas-enredo das escolas, um ou outro se destaca fora do desfile, mas é uma coisa específica daquele espetáculo. E a Bahia, justamente a partir dos anos 60, começou.
Eu me sinto muito presente nesse acontecimento do qual me orgulho enormemente. Porque foi a canção “Atrás do trio elétrico” (1969) que deu coragem, força e animação para que isso se desenvolvesse e depois outras coisas com as quais eu estive direta ou indiretamente ligado. Fico lembrando que aquelas músicas – “A-la-la-Ô”, “Se a canoa não virar” e “Jardineira” -, todas as músicas de carnaval do Rio de Janeiro, as marchinhas e os sambas, que eram uma coisa maravilhosa, tem hoje na Bahia um renascimento com outras características.

E o jazz?
CV: Quando voltei de Santo Amaro para Salvador em 1960, eu tinha tomado contato em 59 com a bossa nova por meio de João Gilberto, o que foi para mim uma revelação, uma iluminação.
Por causa da convivência com gente de teatro, da boemia e da intelectualidade, tomei contato com o jazz moderno daquela época.
Caíram na minha preferência sobretudo Miles Davis, Thelonius Monk e Chet Baker. Sendo que Miles Davis e Chet Baker estavam fazendo o que se chamou de cool jazz. Os discos de Miles Davis com Bill Evans, com aquelas orquestrações, eram uma coisa maravilhosa para mim.
Excursionando no ano passado de ônibus pela Europa com o show “Fina estampa”, nós ouvíamos o tempo todo a coleção do Miles Davis como Bill Evans, que havia sido lançada em CD.
Eu tinha saudade da percussão. Estava já há muito tempo fazendo aquilo. Com saudade da Didá, da percussão de rua da Bahia. Ao mesmo tempo, eu ouvia as músicas de que eu gostava em 1960. Aí disse assim, vou fazer um novo disco, como Dom Casmurro, vou juntar as duas pontas.
Ilustrada - Folha de São Paulo, 15 de Abril de 1998 

"Na verdade, a experiência com Fina Estampa me agradou muito e sempre gosto dos registros ao vivo que sucedem discos de estúdio de meus colegas, em geral e em particular do disco de Gilberto Gil 'Quanta gente veio ver' que é bacanérrimo. Só que no caso de Prenda minha, fiz uma coisa totalmente diferente, já que gravei justamente o repertório do show que não pertencia ao disco de estúdio."

Caetano abre o tabuleiro com a frase "Domínio público, Jorge Ben, Fernanda Abreu, Racionais MCs, Marinheiro só, Miles Davis", para em seguida puxar "Jorge da Capadócia" do swing man Benjor.
 
Na fala do artista, os nomes que gravaram a música e uma redenção: "foi pra comentar e ao mesmo tempo perdoar o fato de Miles Davis ter gravado 'Prenda minha' no início dos anos 60 com Gil Evans e tê-la registrado como sendo de sua autoria. É como se eu tivesse tentando dar a bela versão de Davis/Evans de volta aos gaúchos. E é por isso também que escolhi Prenda minha como título desse trabalho."
"Meditação", de Tom Jobim, precede "Terra", tão implorada em todos os palcos onde Caetano se apresenta. A platéia explode em aplausos e perde o fôlego com "Eclipse Oculto". Pausa para respirar. Um outro texto, já escrito em Verdade Tropical, mas sempre renovado a cada citação pela força da homenagem a Gilberto Gil e Dona Canô, é a senha para "Bem devagar" e "Drão", do próprio Gil. Notas mais antigas, mas nem por isso amareladas, revelam "Saudosismo" e lembram Chico Buarque em "Carolina". Da voz de Caetano, surge "Sozinho", de Peninha, já gravada por Sandra de Sá e Tim Maia. "Esse cara" e "Mel" nos lembram outras fases dessa trajatória, nunca gravadas pelo autor. "Linha do Equador", em parceria com Djavan, "Odara" e "A luz de Tieta" retomam o clima eufórico e encaminham o álbum para "Atrás da Verde-e-Rosa só não vai quem já morreu", manifesto mangueirense de amor aos baianos que mudaram o rumo da MPB.

"Vida Boa" é a última faixa. Composição de Fausto Nilo e Armandinho, que encerra o disco numa espécie de sinopse de todo esse enredo: "você que faz minha vida variar, tá na luz que passa pelo ar, passa também pelo meu, seu... 'cantar'.
Sandra Almeida - Release do Disco "Prenda Minha" - novembro/1998

Opinião da casa:

O melhor disco ao vivo de Caetano e o mais vendido da carreira, por um motivo curioso: a regravação de "Sozinho" em voz e violão. 
Me parece que a escolha das faixas e a sequência do show, traz para o palco os capítulos principais do livro "Verdade Tropical", autobiografia de Caetano, lançada em 1997.
Assim como no livro, há capítulos sobre Gil e Bethânia, comentários sobre Dona Canô, Gal, Dedé, Chico Buarque e bossa nova. Terminando com uma atualização dos acontecimentos mais recentes, o desfile da Mangueira em homenagem aos Doces Bárbaros e o sucesso do tema do filme "Tieta".

Novamente Caetano atualiza suas canções mais antigas. "Terra" e "Eclipse oculto" estão aqui em belas versões. "Mel" e "Esse cara", as duas feitas para Bethânia, ganham versões excepcionais do autor.
A versão em castelhano de "Mel/Miel" foi apresentada no programa "Chico e Caetano" com o autor da versão, Willie Collon.