2012 - Abraçaço


1 - A bossa nova é foda 
(Caetano Veloso)

02 - Um Abraçaço 
(Caetano Veloso)

03 - Estou Triste 
(Caetano Veloso)

04 - Império da Lei 
(Caetano Veloso)

05 - Quero Ser Justo 
(Caetano Veloso)

06 - Um Comunista 
(Caetano Veloso)

07 - Funk Melódico 
(Caetano Veloso)
08 - Vinco 
(Caetano Veloso)

09 - Quando O Galo Cantou 
(Caetano Veloso)

10 - Parabéns 
(Caetano Veloso e Mauro Lima)

11 - Gayana 
(Rogério Duarte)




Comentários: 


O que você quer dizer com "Abraçaço" é "uma extensão múltipla, completa e em grupo"?
- A repetição do "ç" após "a" é ainda mais forte do que o "z" em espanhol: "ACAC" quando é escrito, dá a impressão de algo que se desenrola, círculos concêntricos. Som, ou com "c" ou "z", e dá a idéia de multiplicidade, não ser um simples abraço, mas porque sugere um interminável "açaçaçaçaç ...". E esse final "aço" também indica algo feito por muitas pessoas. No entanto, foi com a idéia de "grande abraço" que usei a palavra nas letras da música.  
Primeira vez que ouvi a palavra “abraçaço”, foi naquela música. Quem inventou a palavra, você
CV: Não, não, inventar não, inventei porque as pessoas dizem muito um beijaço, um filmaço, um golaço, então o abraçaço nunca ouço as pessoas dizerem mas não e impossível e fica interessante porque abraço para ter esta desinência -aço.. então vem o outro -aço Ficam dois, parece um eco, né, abraçaço, tem dois 'c' cedilha, né.. quando está escrito. Então achei bonito. Eu comecei a usar como as respostas de emails para amigos.


"Quando o galo cantou", é um samba, e isso tem algo a ver com o que eu quero fazer no futuro.
Entrevista a Matej Praprotnik - Radio Slovenija - Eslovênia, 2014 
"A bossa nova foi um grande evento em nossas vidas. Nenhum artista brasileiro da minha geração parou de falar sobre esse trauma inicial. O que João Gilberto fez? Ele lhes deu direção e incentivo às composições de Jobim, Lyra e Menescal, mudando o jeito de entender a música popular brasileira. E foi imediatamente adotado pelo público em geral. É disso que eu sempre falo, tentando dizer melhor e melhor. "A bossa nova é foda" nasceu de inspiração para expô-lo exatamente nesses termos. Os erros de perspectiva da visão internacional sobre o significado de gênero são antigos. Mas é mais anacrônico a opinião estrangeira de que esse movimento é resumido em um estereótipo sem que seja diluído no preconceito do vulgar. Miles Davis disse que "João Gilberto é música mesmo lendo um jornal". A bossa nova influenciou a ponta de lança do jazz dos anos 50 e 60, e definiu caminhos para professores de escolas de samba, novos músicos, ensaístas das ciências sociais e poetas de vanguarda. Hoje, João Gilberto é amado até pelos lutadores das artes marciais combinadas (MMA). novos músicos, ensaístas das ciências sociais e poetas de vanguarda"  ------- "Então, a música está cheia de homenagens e citações enigmáticas, onde Gilberto é" o bruxo de Juazeiro, "Carlos Lyra é "um velho instrumento grego" e até Bob Dylan como "o Bardo Judeo-Romântico de Minnesota. ------- "A ideia surgiu porque João Gilberto sempre gostou de boxe, ele era fã de Mike Tyson e tenho certeza que ele olha para a AMM", explicou. "Mas também porque o MMA é uma invenção brasileira, um amálgama feito aqui, como a bossa nova."

De seus últimos três álbuns, Abraçaço é possivelmente o mais melancólico. Além disso, embora pareça sem essa intenção, é um trabalho que flerta com a política, a ponto de homenagear o guerrilheiro urbano brasileiro Carlos Marighella sobre o tema "Um comunista". Por que o fez?
- Sem dúvida, o Abraçaço é o mais melancólico. Mas acho que, dos três, Zii e Zie foi mais político, por meio de temas como "Perdeu" e "A Base de Guantánamo", já que o Cê era quase exclusivamente individualista. Embora, além de "Um Comunista" (no qual é quase uma paródia das músicas de protesto dos anos 60), no meu último álbum está "O império da lei", uma canção sobre os assassinatos impunes de camponeses e missionários em o norte da Amazônia.
Entrevista a Yumber Vera Rojas para O Clarín - Música - Argentina, 2013

Funk Melódico/Quando o galo cantou - "O funk me interessa mais como construção estética, é algo muito sofisticado. Mas gosto do pagode romântico por aquela brincadeira rítmica, uma corridinha na letra, que faço um pouquinho na canção, mas diferente do que os pagodeiros fazem. Não queria uma imitação. É mais uma homenagem, até mais no dizer a expressão “pagode romântico” na letra"

O império da lei - Vendo o filme (“Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”), fiquei muito emocionado e pensando nessa situação do interior do Pará, que a gente acompanha pela imprensa há muitos anos, com a sensação de que o império da lei ainda não pôs seus tentáculos ali de modo firme. No filme, Dona Onete canta sobre uma batida, eu queria essa batida para essa música. Falei com a banda e eles entenderam logo. No filme, a batida estava discreta, eu queria trazê-la para a frente. Queria algo bem forte pra ser um brado mesmo. Pelo ritmo, tem um certo caráter de canção de festa, mas é nitidamente um brado de luta

Um comunista - É o tempo natural da respiração histórica a respeito da memória de Marighella. Jorge Amado passou a vida sonhando em ver um monumento a Marighella em Salvador, mesmo apoiando Antonio Carlos Magalhães. Pedaços desse monumento inexistente são o livro, o filme, a música dos Racionais e a minha canção, que são completamente diferentes. A dos Racionais é uma típica peça de hip hop. A minha parece uma canção de protesto da época das canções de protesto. E eu quis que fosse assim. É uma resistência da canção.

Entrevista a Leonardo Lichote - O Globo, 2012

Em seu último trabalho, Abraçaço, há uma parceria com Rogério Duarte, um dos mentores do Tropicalismo. Você pode falar mais sobre a canção Gayana e sua relação com Rogério?É uma canção de Rogério, letra e música. Ele me mandou por e-mail, num vídeo divino, em que ele aparece cantando e tocando violão com aquela barba longa e aquele tapa-olho. Os caras da banda ficaram maravilhados. Eu quis logo gravar. Aquela frase direta: "Eu amo muito você". E aqueles ecos da poesia hindu. Rogério é uma das inteligências mais impressionantes que já encontrei. Ele tem um jeito de deixar as palavras se formarem dentro dele que faz de qualquer argumento que ele apresente algo relevante e pertinente. Tudo parece vivido. E com intensidade. Quando ele me mandou a música, o título que ele próprio tinha escolhido era Hino Gay, porque falava de um amor que não era dito até aquele momento e porque ele queria homenagear algumas figuras da história do pensamento que foram homossexuais. Depois, observando que Gayana é um nome hoje usual na Índia para meninas, e lembrando o sentido de Gai em sânscrito, ele apareceu com esse título que, na verdade, é muito mais bonito. E não interfere na canção, como o outro faria. Eu adoro saber que essa música era ouvida na novela (Joia Rara) em que Caio Blat fez um monge budista. Fico vendo milhões de brasileiros ouvindo uma canção de Rogério em meio a imagens ligadas à Índia. Parece fazer muito sentido para mim. "
Entrevista Marina Novelli - Revista Muito, A TARDE, 2014
Opinião da casa:

A conclusão da trilogia com a Banda Cê veio pra fechar com chave de ouro a sequência que se iniciou com "Cê". Depois de compor um disco e um show para Gal Costa ("Recanto", de 2011), Caetano volta a questões que nunca abandonou, como a Bossa Nova ("A bossa nova é foda" abre o disco com um comentário atual, assim como em "Outras Palavras" ou "Circuladô"), as referências aos sambas de Noel e o funk carioca, as letras-biografias (algo de "Alexandre" no tamanho de "Um comunista") e temas que já se identificam com o modo "banda-Cê" de execução: "Vinco" e "Um abraçaço".
Ficam em evidência "Estou triste", prima de "Etc", do disco "Estrangeiro", de 89 e "Gayana", composição de Rogério Duarte que encerra o disco com um abraçaço no amor.

2012 - Live at Carnegie Hall


1. Desde Que o Samba é Samba - Caetano Veloso 
(Caetano Veloso) 

2. Você é Linda - Caetano Veloso 
(Caetano Veloso) 

3. Sampa - Caetano Veloso 
(Caetano Veloso) 

4. O Leãozinho - Caetano Veloso
 (Caetano Veloso) 

5. Coração Vagabundo - Caetano Veloso 
(Caetano Veloso) 

6. Manhatã - Caetano Veloso
(Caetano Veloso) 

7. The Revolution - Caetano Veloso + David Byrne 
(David Byrne) 

8. Everyone’s in Love with You - David Byrne 
(David Byrne) 

9. And She Was - David Byrne 
(David Byrne) 

10. She Only Sleeps - David Byrne 
(David Byrne) 

11. Life During Wartime - David Byrne 
 (David Byrne, Jerry Harrison, Chris Frantz & Tina Weymouth) 

12. God’s Child - David Byrne 
(David Byrne) 

13. Road to Nowhere - David Byrne 
(David Byrne) 

14. Dreamworld: Marco de Canaveses - Caetano Veloso + David Byrne 
 (Caetano Veloso, David Byrne) 

15. Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê - Caetano Veloso + David Byrne 
(Caetano Veloso & Moreno Veloso) 

16. (Nothing but) Flowers - Caetano Veloso + David Byrne 
(David Byrne, Jerry Harrison, Tina Weymouth, Yves N’Jock & Chris Frantz) 

17. Terra - Caetano Veloso 
(Caetano Veloso) 

18. Heaven - Caetano Veloso + David Byrne
(David Byrne)  

Comentários

In the spring of 2004, Caetano Veloso curated a week of special concerts at New York’s Carnegie Hall as one of its prestigious Perspectives artists. As part of the series, he invited his longtime friend and collaborator David Byrne to join him for an evening in Isaac Stern Auditorium. The concert was recorded for broadcast on NPR and now will be released by Nonesuch as Caetano Veloso and David Byrne: Live at Carnegie Hall on March 13, 2012. The singer/guitarists each performed an acoustic set of their own songs, joined by cellist Jaques Morelenbaum and percussionist Mauro Refosco, and also performed together (see below for the complete track list). Caetano Veloso and David Byrne: Live at Carnegie Hall is available now for pre-order in the Nonesuch Store. You can hear the album track "Dreamworld: Marco de Canaveses," featuring both artists, at Pitchfork. 

“When I got the invitation to curate a program for Carnegie Hall’s Perspectives … the one American artist I was sure I wanted to invite was David Byrne,” Veloso recounts. “I met David in the 1980s … [He] impressed me by showing a very lively ear to whatever was on Brazilian radio. From our first conversation I noticed David was the first rock musician who could really feel the essence of Brazilian music … When I had to go on stage with him, I was not nervous, but I was very shy. You’ve got to be Brazilian (or something of the like) to know how awesome (I mean AWEsome) it is to sing side by side with David Byrne.” 

Byrne says of his admiration for Veloso, “I’d been a Caetano fan since the late ‘80s, when I’d fallen headlong down the rabbit hole of Brazilian music. If I had to name some musicians to whom I would look as a guide to what is possible—those musicians who have managed to sustain a creative and interesting life in music—Caetano would be among the top few.” Of the 2004 concert, he continues, “I was incredibly nervous, and I remember having flubbed on a chord or two (some of those remain on this recording, I’m afraid) … but of course it was Caetano, and Carnegie Hall, so I was also incredibly thrilled and flattered.”

Caetano Veloso is among the most influential and beloved artists to emerge from Brazil, where he began his musical career in the 1960s. He has nearly 40 recordings to his credit, including 13 on Nonesuch—the most recent of which is 2010’s zii e zie. Absorbing musical and aesthetic ideas from sources as diverse as The Beatles, concrete poetry, the French Dadaists, and the Brazilian modernist poets of the 1920s, Veloso—together with Gilberto Gil, Gal Costa, his sister Maria Bethania, and a number of other poets and intellectuals—founded a movement, called Tropicalismo, that permanently altered the course of his country’s popular music. 

David Byrne, known as the force behind the enormously popular Talking Heads (1976–88), complements his two-plus decade solo career with work as a photographer, designer, film director, and author. Byrne’s Nonesuch releases include Grown Backwards (2004), reissues of My Life in the Bush of Ghosts (2006) and The Knee Plays (2007), and Here Lies Love (2010), a song cycle he wrote with Fatboy Slim about the life of former First Lady of the Philippines Imelda Marcos and her childhood servant, Estrella Cumpas. Byrne’s most recent book, Bicycle Diaries (Viking, 2009), chronicles his observations and insights—what he is seeing, whom he is meeting, what he is thinking about—as he pedals through and engages with some of the world’s major cities. 
  
Release da gravadora Nonesuch, Janeiro 2012

Opinião da casa:

Ótimo disco voltado mais para o mercado internacional.
No show Caetano faz o set-padrão de voz e violão (algumas canções-curinga do repertório) e Byrne mostra seu repertório na segunda parte.
Por fim, a excelente "Dreamworld (Marco de Canaveses)", gravada originalmente para o projeto RedHotRio+2 (em versão mais percussiva). Além de ter a única gravação ao vivo de "Manhatã" e o lado-b "Um canto de afoxé para o bloco do Ilê", de 1982, que David Bayrne havia selecionado para a coletânea Brazil Tropical.

O encarte desse disco foi gentilmente escaneado e cedido pelo leitor Leandro Moura.
Obrigado!

2011 - Recanto [Songbook]




01. Recanto Escuro
(Caetano Veloso) 

02. Cara Do Mundo
(Caetano Veloso)

03. Autotune Auterótico
(Caetano Veloso)

04. Tudo Dói
(Caetano Veloso)

05. Neguinho
(Caetano Veloso)

06. O Menino
(Caetano Veloso)

07. Madre Deus
(Caetano Veloso)

08. Mansidão
(Caetano Veloso)

09. Sexo e Dinheiro
(Caetano Veloso)

10. Miami Maculelê
(Caetano Veloso)

11. Segunda
(Caetano Veloso)

Comentários: 
“Gal é uma das mais emblemáticas figuras da música popular brasileira moderna. Foi A cantora tropicalista por excelência: lançou “Baby” e defendeu “Divino, maravilhoso” no festival de 1968. Depois que Gil e eu fomos presos e exilados, ela segurou a estética ousada do grupo baiano (que tinha se associado aos paulistas Mutantes, Duprat, Medagspana etc. ) em espetáculos como Fa-Tal, Gal a Todo Vapor. Seu nome batizou o trecho de praia mais badalado da Ipanema dos anos 1970. Ela foi considerada por Danuza Leão a mulher mais elegante do Brasil daquele tempo.

Mais tarde, com Gal Tropical, Índia, Cantar e uma sucessão de discos e shows inesquecíveis, ela enriqueceu o imaginário brasileiro. Gal é pessoa colada a mim. Desde que nos encontramos que nosso culto radical a João Gilberto nos aproximou a ponto de quase não precisarmos (nem conseguirmos) conversar nada. Ela é a voz de “Minha voz, minha vida”, a mulher sagrada de “Vaca profana”, o aparelho vocal de “Meu bem, meu mal”. Tom Jobim disse até morrer que ela era sua cantora favorita. E pra mim ela é ainda a menina que conheci porque gostávamos de bossa nova.

A grande plasticidade de seu estilo de cantora se deve ao entendimento instintivo do “cool” que ela teve desde o início. É isso que faz com que ela soe bem com Donato, com Lanny, com o Olodum ou com Kassin. Há uns 3 anos que sonho em fazer um grupo de canções só para ela gravar. Vi um show seu em Lisboa um ano e meio atrás e decidi realizar esse sonho. Compus pensando na voz dela e em programações eletrônicas. Tem até faixa 100% acústica neste disco, mas os sons eletrônicos predominam.

Senti necessidade de dizer justo essas coisas através dela. Vi que ela e eu podíamos fazer soar um objeto não identificado que tivesse a ver com tudo o que essencialmente somos. Por mim, este disco é dedicado a Maria Bethânia e Gilberto Gil, por razões que deveriam ser óbvias. Moreno, afilhado dela, o fez comigo. Kassin foi o programador mor. Mas também tivemos o Duplexx, o Rabotnik e Zeca Lavigne Veloso. É a vida, dolorosa e prazerosa como ela é. É a música, que tanto Gal quanto eu tangenciamos e adoramos”.

Caetano Veloso 
Texto da contracapa do disco "Recanto"

2012 - A tribute to Caetano Veloso [Songbook]


Faixas: 

1. You Don’t Know Me – The Magic Numbers
(Caetano Veloso)

2. Eclipse Oculto – Céu
(Caetano Veloso)

3. The Empty Boat – Chrissie Hynde, Moreno Veloso, Kassin e Domenico
(Caetano Veloso)

4. London London – Mutantes
(Caetano Veloso)

5. Michelangelo Antonioni – Beck
(Caetano Veloso)

6. Fora da Ordem – Jorge Drexler
(Caetano Veloso)

7. É de Manhã – Marcelo Camelo
(Caetano Veloso)

8. Quem me Dera – Devendra Banhart e Rodrigo Amarante
(Caetano Veloso)

9. Alguém Cantando – Momo
(Caetano Veloso)

10. Trilhos Urbanos – Luisa Maita
(Caetano Veloso)

11. Janelas Abertas nº 2 – Ana Moura
(Caetano Veloso)

12. Da Maior Importância – Tulipa Ruiz
(Caetano Veloso)

13. Força Estranha – Miguel Poveda
(Caetano Veloso)

14. Qualquer Coisa – Qinho
(Caetano Veloso)

15. Peter Gast – Seu Jorge, Toninho Horta e Arismar Espírito Santo
(Caetano Veloso)

16. Araçá Azul – Mariana Aydar
(Caetano Veloso)

Comentários: 
Chega a ser irônico que uma fadista de sotaque tradicional, Ana Moura, seja o maior destaque do elenco multinacional recrutado para o disco idealizado pelo produtor Paul Ralphes para festejar os 70 anos completados por Caetano Veloso neste mês de agosto de 2012. Com 16 gravações inéditas, A Tribute to Caetano Veloso resulta irregular, aquém da importância do projeto. A opção parece ter sido por um tributo globalizado, formatado em vários idiomas dentro de atmosfera indie já sinalizada pela já previamente divulgada regravação de You Don't Know me (1972) pelo grupo inglês The Magic Numbers Longe desse universo descolado, Ana Moura transforma Janelas Abertas nº 2 (1971) em fado à moda tradicional e paira acima dos altos e baixos. Se Seu Jorge brilha com sua voz aveludada em Peter Gast (1983), em gravação minimalista urdida com a guitarra de Toninho Horta e o baixo de Arismar Espírito Santo, Qinho faz qualquer coisa de Qualquer Coisa (1975). Se o catalão Miguel Poveda gasta seu espanhol para cantar Força Estranha / Fuerza Extraña (1978) em registro intenso que dilui a poesia dos versos de canção já tão bem gravada por intérpretes como Roberto Carlos e Gal Costa, Marcelo Camelo põe o samba De Manhã (1965) dentro de seu universo particular. Se Céu esconde o suingue de Eclipse Oculto (1983) em abordagem tão insossa quanto reverente arranjada pelo guitarrista Fernando Catatau, Tulipa Ruiz reproduz no estúdio o já aplaudido registro de Da Maior Importância (1973) que apresentou nos palcos ao longo da turnê do disco Efêmera (2010). Se Devendra Banhart e Rodrigo Amarante constrangem com uma pretensiosa releitura de Quem me Dera (1966), turbinada com trechos de várias músicas de Caetano, Mariana Aydar reitera sua forte personalidade em climático registro blue de Araçá Azul (1973). Se Beck também aposta em gravação climática ao revestir Michelangelo Antonioni (2000) de aura quase sagrada, em faixa cantada em inglês, Chrissie Hynde se deixa levar pelas águas do trio + 2 (Moreno Veloso, Kassin e Domenico Lancellotti) ao embarcar em The Empty Boat (1969). Se Sérgio Dias viaja feliz por London London (1970) com o nome de seu grupo Mutantes (em bela combinação de piano, sintetizadores e sitar), Luisa Maita transita indecisa por Trilhos Urbanos (1979) em percurso que soaria mais inventivo se a cantora não tivesse medo de seguir pelo caminho psicodélico sugerido pelo arranjo ao fim da faixa. Se o uruguaio Jorge Drexler mistura versos em espanhol e em português ao cantar Fora da Ordem (1992) em tom apático, MoMo dá sedutor clima (quase) épico a Alguém Cantando (1977) em gravação orquestrada com cordas e o vocal de Karina Zeviani. Enfim, A Tribute to Caetano Veloso soa irregular - traço até comum em discos do gênero - enquanto globaliza a obra do compositor. Entre erros e acertos, paira a sensação de que alguma coisa está fora da ordem mundial no CD.
 Resenha do disco, por Mauro Ferreira

2012 - Especial Ivete, Caetano e Gil


01. Gilberto Gil & Ivete Sangalo – A novidade
(Gilberto Gil)

02. Gilberto Gil & Ivete Sangalo – Toda menina baiana
(Gilberto Gil)

03. Caetano Veloso & Ivete Sangalo – O meu amor
(Chico Buarque)

04. Ivete Sangalo – Tá combinado
(Caetano Veloso)

05. Gilberto Gil – A linha e o linho
(Gilberto Gil)

06. Caetano Veloso – A luz de Tieta
(Caetano Veloso)

07. Caetano Veloso & Ivete Sangalo – Tigresa
(Caetano Veloso)

08. Caetano Veloso – Você é linda
(Caetano Veloso)

09. Ivete Sangalo – Atrás da porta
(Chico Buarque/Francis Hime)

10. Gilberto Gil, Caetano Veloso & Ivete Sangalo – Super-Homem (A canção)
(Gilberto Gil)

11. Caetano Veloso & Ivete Sangalo – Se eu não te amasse tanto assim
(Herbert Viana/Paulo Valle)

12. Ivete Sangalo – Olhos nos olhos
(Chico Buarque)

13. Gilberto Gil & Caetano Veloso – Drão
(Gilberto Gil)

14. Gilberto Gil – Dom de iludir
(Caetano Veloso)

15. Gilberto Gil, Caetano Veloso & Ivete Sangalo – Amor até o fim
(Gilberto Gil)

2012 - I just happened to be here [songbook]


Faixas: 

01 - A little more blue 
(Caetano Veloso)

02 - You don't know me 
(Caetano Veloso)

03 - Shoot me dead 
(Caetano Veloso)

04 - Lost in the paradise 
(Caetano Veloso)

05 - Nine out of ten 
(Caetano Veloso)

06 - In the hot sun of a Christmas day 
(Caetano Veloso/Gilberto Gil)

07 - The empty boat 
(Caetano Veloso)

08 - London, London 
(Caetano Veloso)

09 - It's a long way 
(Caetano Veloso)

10 - If you hold a stone (Marinheiro só) 
(Caetano Veloso)

Comentários: 

 A primeira vez que entrei em contato com “I Just Happen to Be Here”, foi quando Alexia Bomtempo foi gravar uma das vozes do disco no meu estúdio. A música era “A Little More Blue”, do primeiro LP que Caetano gravou em Londres, que conheço de cor. Além de ter achado a voz dela linda, fiquei surpresa com a propriedade com que Alexia dizia aquela letra que começa com o verso “One day I had to leave my country” (Um dia eu tive que deixar meu país). Meu irmão, o preparador vocal Felipe Abreu, já havia comentado comigo que tinha idealizado para Alexia um disco feito apenas de canções compostas em inglês por Caetano, e que tinha convidado o músico e compositor Dé Palmeira pra produzi-lo em parceria. Achei uma ideia ótima, que ninguém teve antes, ao que eu saiba.

As dez canções que Alexia selecionou para "I Just Happen to Be Here" (título retirado de um verso de"London, London") foram compostas entre 1969 e 1972. Foram os "anos de chumbo" de Caetano, em que - como ele mesmo relata em seu livro "Verdade Tropical"- passou pelas experiências traumáticas e transformadoras da prisão no Rio de Janeiro, do confinamento em Salvador e de quase três anos de exílio em Londres, durante o período mais violento da ditadura militar.
O significado de "deixar seu país" é totalmente diferente nas experiências de Caetano e Alexia: ela nunca foi presa, confinada ou exilada. Alexia nasceu duas gerações depois de Caetano, em 1984. Filha de mãe norte-americana e pai brasileiro, ela sempre se dividiu entre os EUA e o Brasil, até se estabelecer aqui de vez, há sete anos.
Com dupla nacionalidade, fala português e inglês sem qualquer sotaque que a denuncie como estrangeira. Nem aqui, nem lá. Nas palavras de Alexia: “O tempo e a língua divididos entre o Brasil e os Estados Unidos, me aproximaram da poesia do exílio cantada por Caetano. Eu me aproprio das palavras dele, criadas para um outro contexto, traduzindo-as para mim num movimento de autodescoberta e autoafirmação: You don’t know me...just let me say who am I".

Nesse processo, Alexia se deu conta de que essas canções transcendiam as circunstâncias históricas e pessoais do Caetano, já que a sensação de estranheza, desconforto e não pertencimento invade a alma de tanta gente no mundo inteiro hoje. Quem nunca se sentiu um "errante navegante"? Alexia explica: "Foram muitas idas e vindas nessa minha história americano-brasileira. Sem eu saber, a música de Caetano apontava para o meu futuro no Brasil. Agora estou aqui. E isso não é obra do acaso - o aqui significa quem eu sou de verdade. I just happen to be here and it’s OK. No mapa, na vida e na música.”
Entre as ideias musicais de que eu mais gosto no CD, destaco a decisão de deixar as canções na sua essência, sem utilizar as citações que Caetano fazia (como em "You Don't Know Me" e "It's a Long Way"); a levada sugestiva de samba-reggae em "Nine Out of Ten", com auxílio luxuoso de Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz, fazendo a ponte Londres-Salvador; o dobro tocado por Frejat em “In the Hot Sun of a Christmas Day”, única parceria em inglês entre Caetano e Gilberto Gil; e o equilíbrio orgânico entre as texturas acústicas e eletrônicas.

Fiquei impressionada com a qualidade dos músicos que tocam em “I Just Happen to Be Here”. Além de Letieres & Rumpilezz, Frejat e o próprio Dé, o disco traz a classe e competência de Dadi, Rodrigo Campello, Kassin, Domenico Lancellotti, Charles Gavin, Berna Ceppas, Jr Tostói, Marcelo Costa, Marcelo Vig, Roberto Pollo, Ricardo Palmeira e Mú Carvalho.
Há também participações internacionais, como a do compositor norte-americano Jesse Harris (vencedor do Grammy, autor do megahit de Norah Jones "Don't Know Why"), do baterista e programador holandês Marcel Van As (da banda Coparck) e da cantora norte-americana Hannah Cohen.

Alexia, Felipe e Dé foram ousados, corajosos e bem sucedidos ao mexer com talento e imaginação, em um material que muita gente considera "sagrado". Entre outras coisas, “I Just Happen to Be Here” valida o principio antropofágico tropicalista: digerir para renovar. Esse disco mexe a grande roda da música brasileira, maravilha mutante.

Fernanda Abreu, cantora e compositora
 Press release para imprensa

2011 - Caetano e Maria Gadú - Ao vivo


Disco 1

01 Beleza Pura -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

02 O Quereres -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

03 Sampa -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

04 Vaca Profana -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

05 Rapte-me, Camaleoa -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

06 Trem Das Onze -  Caetano + Maria Gadú
(Adoniran Barbosa)

07 O Leãozinho -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

08 Odara -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

09 Nosso Estranho Amor -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

10 Vai Levando -  Caetano + Maria Gadú
(Chico Buarque/Caetano Veloso)

11 Menino Do Rio -  Caetano + Maria Gadú
(Caetano Veloso)

12 Podres Poderes - Maria Gadú
(Caetano Veloso)

13 Shimbalaiê -  Caetano
(Maria Gadú)

Disco 2

01 Bela Flor - Maria Gadú
(Maria Gadú)

02 Encontro - Maria Gadú
(Maria Gadú)

03 Tudo Diferente - Maria Gadú
(Maria Gadú)

04 Dona Cila - Maria Gadú
(Maria Gadú)

05 Escudos - Maria Gadú
(Maria Gadú)

06 A História de Lilly Braun - Maria Gadú
(Chico Buarque e Edu Lobo)

07 Milagres Do Povo - Caetano Veloso
(Caetano Veloso)

08 Genipapo Absoluto - Caetano Veloso
(Caetano Veloso)

09 Odeio - Caetano Veloso
(Caetano Veloso)

10 De Noite Na Cama - Caetano Veloso
(Caetano Veloso)

11 Desde Que o Samba é Samba - Caetano Veloso
(Caetano Veloso)

12 Sozinho - Caetano Veloso
(Peninha)

13 Alegria, Alegria - Caetano Veloso
(Caetano Veloso)

Comentários: 
“Essa história começou quando o pessoal da Globosat nos convidou para celebrar a inauguração das novas instalações. O encontro foi casual e rapidamente apareceram canções para tocarmos juntos”, relembra Caetano da apresentação que fez no início de 2010 na nova sede da programadora no Rio de Janeiro.
[...] Fui à extinta Cinematheque ver o show dessa menina que diziam ser a nova Cássia Eller. Chegando lá, notei que ela era uma figura interessante. Parecia um moleque de favela movie e ao mesmo tempo tinha peitos grandes. Quando ela soltou a voz, estava muito mais para Marisa Monte do que para Cássia. Era um garotinho com voz de princesa."
Release do CD/DVD "Caetano Veloso e Maria Gadú Ao Vivo"

Opinião da casa:

Excelente set solo de Caetano no disco 2 onde estão as grandes "Milagres do povo", "Genipapo Absoluto" e "Shimbalaiê" num arranjo atípico, lindo. As canções em dueto são boas escolhas mas implico com a dicção de Gadú em vários momentos.
O repertório é popular: volta "Sozinho", "O leãozinho", "Menino do Rio"... O encontro (conforme citado por ele em entrevistas) foi arranjado para inaugurar um estúdio da Globosat. Em seguida virou  uma turnê e ganhou registro pelo Multishow. Foi Disco de Platina (250 mil cópias).

O dueto feito com Nina Becker no mesmo ano faz mais minha cabeça.

2011 - Zii e Zie - MTV ao vivo



1, A voz do morto
(Caetano Veloso)

2. Sem Cais 
(Pedro Sá e Caetano Veloso)

3. Trem das Cores 
(Caetano Veloso)

4. Perdeu 
(Caetano Veloso)

5. Por Quem 
(Caetano Veloso)

6. Lobão Tem Razão 
(Caetano Veloso)

7. Maria Bethânia 
(Caetano Veloso)

8. Irene 
(Caetano Veloso)

9. Volver 
(Alfredo le Pera e Carlos Gardel)

10. Aquele Frevo Axé 
(Caetano Veloso e Cezar Mendes)

11. Billie Jean / Eleanor Rigby
 (Michael Jackson)  / (John Lennon e Paul McCartney)

12. Tarado ni Você 
(Caetano Veloso)

13. Não Identificado 
(Caetano Veloso)

14. Odeio 
(Caetano Veloso)

15. Base de Guantánamo 
(Caetano Veloso)

16. Lapa 
(Caetano Veloso)

17. Água 
(Kassin)

18. A Cor Amarela 
(Caetano Veloso)

19. Eu Sou Neguinha? 
(Caetano Veloso)

20. Falso Leblon 
(Caetano Veloso)

21. Menina da Ria 
(Caetano Veloso)

22. Força Estranha 
(Caetano Veloso)

23. Manjar de Reis 
(Jorge Mautner e Nelson Jacobina) - com Jorge Mautner

Comentários: 

Do palco para o estúdio e de volta ao palco: essa foi a trajetória dos transambas que compõem o mais novo CD de Caetano Veloso, "zii e zie". A grande maioria deles fez parte da temporada do show "Obra em Progresso", realizada ano passado, no Rio, com a BandaCê - Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes - a mesma de agora. Na época, "Perdeu", "Sem Cais" e "Lapa", entre outros, foram executados pouco tempo depois de compostos. "As canções eram novas e cresciam de número a cada semana. Além disso, conviviam com um repertório mutante, o que é estimulante, mas também precário", lembra Caetano.
 Passado quase um ano da estréia de "Obra em Progresso" - período que incluiu a gravação do CD "zii e zie" - a nova safra de composições do músico baiano reaparece no palco amadurecida. "Agora estão todas gravadas e farão parte de uma estrutura estável. Suponho que representarão mais o som que conseguimos no disco do que na época do Vivo Rio", explica. Se essa já representaria uma diferença básica em relação à temporada de 2008, soma-se a ela o fato de que ainda que fossem apresentadas todas as 13 músicas do CD recém-lançado, elas comporiam apenas cerca da metade do repertório do novo show. Assim, as canções - "minhas ou por mim amadas" - que se alternarão às de "zii e zie" deverão criar um conjunto de efeito diferente do que já foi visto. Para completar, no novo show, Caetano volta a contar com a colaboração de seus parceiros Maneco Quinderé (luz) e Hélio Eichbauer (cenário), o que não houve em "Obra em Progresso."

 Em seu décimo-primeiro trabalho com Caetano, Hélio procurou traduzir o clima carioca presente no CD para a cenografia. O destaque no palco vai ser uma asa-delta de verdade, usada como escultura. Além disso, pela primeira vez, Caetano vai contar com projeções. Enquanto forem executadas músicas que falam do Rio - "Lapa", "Falso Leblon", "Sem Cais"... - serão exibidas imagens do cineasta Miguel Przewodovski.
 O critério para a escolha do set list obedeceu a um padrão criado há tempos pelo artista: "São sempre as músicas do disco novo e o que mais vier à cabeça para conviver com elas e com os sons da banda que lhes dá vida", conta. Alguns números são imaginados desde que o CD vai ficando pronto, outros podem ser sugeridos por lembranças, associações e sugestões, venham elas dos músicos, de amigos e desta vez da audiência - por causa do blog "Obra em Progresso". A seleção inclui sucessos como "Trem das Cores" e "Eu sou neguinha", além de canções da virada dos anos 60 e início dos 70: "Irene", "Não identificado" e "Maria Bethânia". " 'zii e zie' é, para mim, um grande disco, e nós pretendemos mostrar ao vivo quão rico é o seu som. A escolha das outras canções deve servir para mostrar também a força das idéias contidas nele", resume Caetano.

Release para imprensa "Zii e Zie Mtv Ao vivo"

Opinião da casa:

Zii e Zie segue a regra de discos de shows que Caetano apresenta desde 1998: um primor. Esse show não teria registro oficial, mas a pedido de Zeca, filho de Caetano, ele fez um único show no Vivo Rio para lançar pelo selo MTV Ao Vivo.
O show segue um padrão semelhante ao de "Cê", conta com a maioria das canções do disco entremeadas por clássicos de Caetano. Aqui o canto está mais suave, o som está menos tenso. A sequência das canções torna mais evidente o olhar observador e cronista de Caetano.
O show é repleto de homenagens, citações, cores e nomes: o pagode baiano na abertura, Psirico e Fantasmão, Paulinho da Viola, Aracy de Almeida, Bethânia, Roberto Carlos, "Guinga e Pedro Sá"... Todos viajam através do cenário: uma asa delta que vaga entre as projeções do telão. 
Um show bem costurado e executado com perfeição. Um pouco melancólico, mas querendo que tudo melhore.

2010 - Que-De-Lindo - Raridades (1995-2007)


1. A luz de Tieta (Caetano Veloso) – com Gal Costa

2. Vestido de prata (Jorge Alfredo) – com Margareth Menezes

3. Machado de Xangô
(Saul Barbosa/ Jaime Sodré)

4. Faixa de cetim (Ary Barroso)

5. Céu de Santo Amaro (Johann Sebastian Bach/ Adpt.: Flávio Venturini)

6. Merica, Merica (Caetano Veloso)

7. Pedra de responsa (Chico César/ Zeca Baleiro) – com Alcione

8. Vá morar com o diabo (Riachão) – com Riachão

9. O calhambeque (Road hog) (Gwen/ J. D. Loudermilk/ Adpt.: Erasmo Carlos)

10. Maluco beleza (ao vivo) (Raul Seixas/ Cláudio Roberto)

11. Meus telefonemas (Caetano Veloso/ LG/ Cláudio Radikal/ Dinho/ José Júnior/ Jairo) – com Negra Li

12. Lua de São Jorge (Caetano Veloso) – com Olodum

13. Que de-lindo (It’s De Lovely) (Cole Porter/ Adpt.: Carlos Rennó)

14. Cheek to cheek (Irving Berlin) – com Cauby Peixoto

15. Boa palavra (Caetano Veloso) – com Maria Odette

16. O fundo (João Donato/ Caetano Veloso) – com João Donato

17. O canto de Dona Sinhá (Toda beleza que há) (Vanessa da Mata) – com Maria Bethânia

18. Você não me esqueceu a te esquecer (Fernando Mendes/ José Wilson/ Lucas)

19. Ó paí ó (Davi Moraes/ Caetano Veloso) – com Jauperi

20. Margarida perfumada (ao vivo) (Carlinhos Brown / Cícero Menezes) – com Timbalada

Opinião da casa:

A quarta e última compilação da coleção 40 anos Caetanos prioriza os duetos que Caetano fez. Percebe-se que ele está muito envolvido com a axé music e que não é de negar muitos convites (o que veio a se certificar nos anos 2000, fase em que participa de muitos projetos).
Caetano se mantém um grande intérprete, consolidado e com apelo popular também.
Destaque para as canções e produções em trilhas para cinema.

2009 - Zii e Zie


1. Perdeu
(Caetano Veloso)

2. Sem cais
(Caetano Veloso / Pedro Sá)

3. Por quem?
(Caetano Veloso)

4. Lobão tem razão
(Caetano Veloso)

5. A Cor Amarela
(Caetano Veloso)

6. A Base de Guantánamo
(Caetano Veloso)

7. Falso Leblon
(Caetano Veloso)

8. Incompatibilidade de gênios
(João Bosco / Aldir Blanc)

9. Tarado ni você
(Caetano Veloso )

10. Menina da Ria
(Caetano Veloso)

11. Ingenuidade
(Serafim Adriano Da Silva)

12. Lapa
(Caetano Veloso)

13. Diferentemente
(Caetano Veloso)

Comentários: 
Um passo a dar com a banda do "Cê" (hoje bandaCê) e a lembrança permanente daquele disco de Clementina com Carlos Cachaça. "Incompatibilidade de gênios" e "Ingenuidade" estão em "zii e zie" porque são as faixas núcleo daquele disco, as que ficaram sempre acesas na memória. Não tenho um exemplar do disco de Celementina comigo. Talvez um vinil tenha ficado na casa de Dedé e hoje Moreno o achasse. Mas nem perguntei a ele. Num dos primeiros ensaios da série Obra em Progresso, aquele em que Jaquinho foi o convidado, quis ensaiar "Incompatibilidade" e comentei com Pedro, Ricardo e Marcelo que na minha lembrança Clementina cantava em, digamos, dó maior, em vez do lá menor do João Bosco. Tinha na memória uma harmonia mais convencional quando ouvi a gravação desse samba com o autor pela primeira vez: a que tinha ouvido antes com Clementina.
Achei que João Bosco tinha feito uma rearmonização e desejei voltar ao jeito que está no disco dela. Mas não estava certo de que minha lembrança não fosse uma ilusão. Jaquinho então disse: "por que você não faz em dó maior, se é isso que você está sentindo?". Tentei achar a gravação de Clementina ali na hora (Moreno não ia aos ensaios), na internet, mas não achei. Achei uma exuberante e espetacular de João Bosco ao vivo no YouTube. Em lá menor, claro. Me pergunto se há muita coisa melhor do que aquilo no mundo. Mas minha idéia era totalmente oposta à daquele tratamento jazzístico moderno e com um suingue de samba tão profundamente sentido por todos os músicos que chega a doer. 
Voltei para a sala de ensaio com vontade de talvez nem cantar a música. E com a certeza de que, se o fizesse, seria em lá menor: o dó maior seria bonito numa versão ingênua que quisesse ser o que Clementina soava pra mim. Na versão simplificada mas nada ingênua que eu imaginava, o centro tonal em lá menor - e os acordes tensos ao seu redor - era o que se exigia. A batida monótona tinha de o ser tanto quanto a de "Perdeu", embora um tanto diferente: partindo da idéia básica da batida de Bosco. Experimentamos. E a canção entrou não só no show seguinte como está no disco. Me demoro contando sobre a entrada de "Incompatibilidade de gênios" (e algo sobre a de "Ingenuidade") em "zii e zie" porque acho que isso joga luz sobre todo o sentido do novo disco. Conhecendo o que eu sugeri para "Perdeu" (e o que, juntos, conseguimos com esse transamba), os três caras da banda intuíam o que deveria estar em minha cabeça como tratamento para "Incompatibilidade". Mas as mudanças por que o projeto de arranjo passou em minha mente eles não acompanharam. Voltei do computador decidido a incluir a música no disco e dizendo que a versão de João era humilhante, mas que a gente faria um "transamba", enquanto ele fazia "samberklee". A piada era boa e fez rir. Não dá para competir: nossa versão apenas mostra uma abordagem diferente, que talvez suscite outras interpretações desse samba obra-prima. Isso diz muito do que fazemos, nesse disco,com o samba em geral.
De "Diferentemente" (a mais velha das canções do CD) a "Lapa" (a mais nova), todas as composições nasceram comigo usando batidas de samba no meu violão - e buscando frases melódicas que evocassem a tradição do gênero. As únicas exceções talvez sejam "Por quem?" e "Sem cais". Digo "talvez" porque para "Por quem?" sempre imaginei uma bateria dobrando uma transbossanova sobre o ternário às avessas do meu violão - e a balada de "Sem cais" já veio à mente de Pedro com muito samba dentro. Pode ser que alguém ache difícil reencontrar isso em "Menina da Ria" ou mesmo em "Lobão tem razão". Mas eu digo que, embora em "A cor amarela" haja explícitas palmas de samba-de-roda, há mais samba na base daquelas duas canções (e em "Tarado ni você") do que no axé light da menina preta. Mantive as minhas batidas de violão do momento da composição em todas as gravações. Sugeri relações de contraste ou de distorção entre elas e a atividade dos outros instrumentistas. Chegamos a coisas muito bonitas e, mesmo para nós, intrigantes. 
"Zii e zie" é um disco feito com a bandaCê, concebido para ela. Ela tinha sido concebida para fazer o "Cê". Por isso há mais unidade na partida do "Cê" do que na chegada, ao passo que há mais unidade na chegada do que na partida do "zii e zie". Para nós quatro foi custoso reconhecer essa verdade (que pareceu óbvia a ouvintes não envolvidos na feitura).

"Cê" foi concebido para criar uma banda. Mas foi um disco de letras muito pessoais minhas. Eu olhava para meu entorno próximo. Em "zii e zie", as letras olham para mais longe. Atém-se majoritariamente ao Rio, mas aí vai a lugares variados: da favela ao Leblon, da Lapa à praia; de Chico Alvez a Los Hermanos; de anônimos típicos a celebridades atípicas, como Kassin, a combinações inusitadas de personalidades cariocas, como Guinga e Pedro Sá. Mas as letras olham para mais longe de mim também: Guantánamo, grutas do Afeganistão, Washington. Voltam os nomes próprios e o tom de comentário dos signos dos tempos que sempre fizeram presença em meu repertório. 

Tudo contribuiu para que este viesse a ser um disco mais de banda do que o anterior. Moreno e Daniel Carvalho ficaram mais felizes com o material sonoro que produzíamos. E nós nos sentíamos ainda mais relaxados no diálogo com eles dentro do estúdio. Pedro foi mais um produtor que dirige a feitura da música. Moreno, mais um produtor que dirige a feitura do som. Daniel era responsável pela técnica de captação. Moreno tem um ouvido muito fino para gravação, mixagem e masterização. Ele ilumina os técnicos. E o tratamento sonoro que ele e Daniel trazem ilumina a música.


"Zii e Zie" é um disco muito claro e denso, nascido num ano de chuvas no Rio, um ano de nuvens pesadas e escuras, sem metáfora. É um disco que saúda a era Fernando Henrique/Lula e fala de ambições de ascensão do Brasil no cenário mundial num tom de tristeza íntima mitigada. Entro na velhice. Pedro e Moreno estão no auge da idade adulta. Marcelo e Ricardo chegam a ela. Somos pessoas de gerações diferentes partilhando interesses musicais e humanos semelhantes. E com assustadas expectativas de futuro soando em nossas cordas metálicas, plásticas, mucosas.

Release do disco Zii e Zie 
Caetano Veloso - Abril/2009

Opinião da casa:

"Zii e Zie" é um disco que veio de uma série de shows semanais chamado "Obra em Progresso", onde Caetano, acompanhado da BandaCê, apresentava novas canções, comentava os assuntos da semana e recebia convidados e participações especiais. Nesses shows o repertório de Zii e Zie foi quase todo apresentado, com exceção de uma ou outra música. Além dos shows, havia também um blog com o mesmo nome, no qual Caetano comentaria sobre as canções e os shows (acabou comentando sobre os mais diversos assuntos, fazendo amigos, respondendo perguntas, etc). 

Esse disco é bem mais "típico", como definiu Caetano, de retomada de comentários do signo dos tempos. Mas dessa vez com um tom de crônica carioca. Os personagens tem vida própria e cada canção gravita em torno deles: o menino de rua ("Perdeu"), a noite do Rio ("Lapa", Falso Leblon") e outras respostas mais diretas ("Base de Guantánamo", Lobão tem razão"). Crônicas cariocas. Muitos: "quem é você?", "quem sou eu?", "por quem?".

Devo ressaltar as praieras "A cor amarela" e "Sem cais", essa última em parceria com Pedro Sá.
Caetano tem dispensado o sobrenome e assinado apenas "Caetano" na capa de seus discos.