1968 - Caetano Veloso (Tropicália)



1. Tropicália
(Caetano Veloso)

2. Clarice
(Caetano Veloso, Capinan)

3. No dia em que eu vim-me embora
(Caetano Veloso, Gilberto Gil)

4. Alegria, alegria
(Caetano Veloso)

5. Onde andarás
(Caetano Veloso, Ferreira Gullar)

6. Anunciação
(Caetano Veloso, Rogério Duarte)

7. Superbacana
(Caetano Veloso)

8. Paisagem útil
(Caetano Veloso)

9. Clara
(Caetano Veloso)

10. Soy Loco Por Ti, América
(Gilberto Gil, Capinan)

11. Ave-Maria
(Caetano Veloso)

12. Eles
(Caetano Veloso, Gilberto Gil)

Comentários: 
Quando eu estava preparando meu segundo LP (aquele para o qual Rogério Duarte fez uma capa com mulher e dragão e retrato oval), escrevi um texto prafrentex para a contracapa. Durante o período de gravações, recebi em São Paulo a visita de Fernando Lôbo (autor de ‘Chuvas de Verão’, música que vim a gravar algum tempo depois na cidade de Salvador, onde gozei grilado quatro meses de confinamento). Era uma visita profissional; ele vinha buscar o texto da contracapa e marcou, pelo telefone, um encontro no Patachou pedindo que eu o levasse. Eu disse OK mas não achei o texto na hora de sair nem nunca mais. À mesa do restaurante, eu informei Fernando da perda e ele me informou da necessidade de voltar na manhã seguinte para o Rio com tudo pronto para imprimir a contracapa: caso contrário o disco atrasaria um mês. Como eu preferia que o disco saísse péssimo do que atrasado, concordei em aceitar o papel e a caneta que ele me oferecia enquanto me ameaçava com a terrível informação. Reescrevi ali mesmo o babado todo que eu pensava ter esquecido. Enquanto eu trabalhava, as pessoas conversavam. Inclusive comigo. "Eu gostaria de fazer", eu ia tentando lembrar, "uma canção de protestos de estima e consideração, mas esta língua portuguesa me deixa louco" eu escrevi e imediatamente percebi que não tinha escrito "rouco" como da primeira versão. Cortei "louco" e escrevi "rouco" em seguida. Não sei se foi isso que deu a Fernando a idéia de reproduzir meu manuscrito na contracapa do disco ou se ele já havia falado nisso antes. Só sei que concordei com essa idéia para não dificultar as coisas: na época eu teria preferido que o texto saísse datilografado; algum tempo depois eu preferiria impresso mesmo; hoje, não sei. De qualquer forma, eu gostava da piada. Não tanto da que resultou do erro, mas da piada original. Por nada: apenas porque dizer que a língua portuguesa me deixa rouco era verdade, enquanto que dizer que a mesma me deixa louco dava a impressão de que eu tinha em mente ressaltar mais uma vez o fato de nós falarmos e escrevermos numa língua não exportável. Quando, na verdade, eu não estava, sentindo nada disso. Pelo contrário: estava alegríssimo, compondo desbragadamente, sem sonhar com exportação. 
Caetano Veloso em texto para o Pasquim - 26/03 a 01/04/70
Esse é histórico. É o primeiro LP tropicalista. Pensei que só tinha valor histórico, mas quando ouvi a Gal cantar Tropicália (no show Plural), achei que a canção é viva. Tem muitas idéias, muitas sugestões. O uso de conjunto de rock com guitarra elétrica, as paródias, uma certa violência nas imagens das letras. O início da faixa Onde Andarás, uma parceria minha com Ferreira Gullar, parece com o Chet Baker. Depois imito o Orlando Silva e o Nelson Gonçalves. Em Paisagem Útil, eu imito também o Orlando Silva. A única música que o produtor Manuel Barembeim me indicou foi Clarice. Eu queria gravar Dora, de Dorival Caymmi. Aí o Gianfrancesco Guarnieri me disse que o disco todo era um golpe publicitário para lançar Clarice. O nome é bonito, o refrão é bonito, mas a canção é monstra. Um pedaço não tem nada a ver com outro. Eu mesmo não sei mais cantar Clarice. Depoimento à Marcia Cezimbra - Jornal do Brasil - 16/05/91
Quando "Domingo foi lançado" eu já estava em outra, com a cabeça no meu disco individual, que saiu em 1967. Comecei a andar com o Rogério Duarte e a gente só falava em música comercial, sambas-canções bregas e Roberto Carlos - sobretudo porque Bethânia nos chamou a atenção para o Roberto. 
Eu já andava interessado em sair daquele cerco, daquele mundo da MPB dita de boa qualidade. Até hoje, na verdade, vivo esperneando pra sair desse negócio, mas é difícil. Essas definições que o mercado preestabelece são terríveis.
O tropicalismo queria fazer misturas. Queríamos,sim, ouvir e curtir Roberto Carlos. (...)  Às vezes tinha um iê-iê-iê de Roberto Carlos, que estava estourando entre as empregadas domésticas, mas nossa turma de música popular não conseguia ver se aquilo tinha ou não força poética. E, às vezes, tinha muita força poética. Por outro lado, como cantor o Roberto Carlos era muito bom; mas isto não podia nem ser dito naquela época. Era um tabu."  Depoimento a Charles Gavin e Luís Pimentel - Livro "Tantas canções", 2002   


Opinião da casa:

Primeiro disco solo de Caetano, já na fase tropicalista. Referencial, supra-citado, presente em 11 de cada 10 listas de discos "para ouvir antes de morrer" e isso se deve a todo seu momento histórico e por alguns hits como "Superbacana", "Soy loco por ti América" e o hino da era dos Festivais: "Alegria, Alegria" (a primeira aparição da Coca-Cola numa letra de música brasileira!), além da canção tema do movimento, a cinematográfica "Tropicália".
Tem "Paisagem útil" que atenta ao surgimento do Aterro do Flamengo e é uma inversão de "Inútil paisagem" de Tom Jobim e Aloísio de Oliveira, lançada em 1964. "Clara" com a participação de Gal é um destaque.

Aqui Caetano canta mais naturalmente e os arranjos de Júlio Medaglia fizeram a sonoridade mais arrojada do que no anterior, Domingo.
O disco termina com a faixa "Eles" que é excelente, versos brancos. Caetano fecha o disco dizendo: "Os Mutantes são demais!", um clima constante de inventividade e atualização. 

Atenção para "Onde andarás", bolero feito a pedido de Bethânia, gravado por ela (em "Maria Bethânia", 1969 e outra vez - e melhor - em "Maria", 1988), por Marisa Monte ("Café Brasil", 2001) e Adriana Calcanhotto ("Maré", 2008).

4 comentários:

Unknown disse...

o brigado...

sadomasajista disse...

Muchas gracias

sadomasajista disse...

Muchas gracias.

ADEMAR AMANCIO disse...

Tentam dizer que nunca houve rivalidade entre a chamada MPB e Roberto carlos,ai tá a prova dos nove.No mais, eu acho "Clarice" e "Soy loco por ti américa" perfeitas.