"Caetano Veloso é, certamente, uma das mais "inexplicáveis" personalidades brasileiras. Não apenas por ser um artista polêmico e camaleônico, cuja força sempre esteve na capacidade de escapar às classificações e desautomatizar chaves convencionais de interpretação, mas também por se tratar de alguém que não cansou de se auto-explicar ao longo dos seus quarenta anos de vida artística (iniciada em 1965), a ponto de parecer esgotar tudo o que de novo se poderia dizer a seu respeito.
Ao mesmo tempo, continua a atrair para si a atenção de um público imenso --dentro e fora do país--, mantendo-se como um foco de controvérsias a exigir sempre novas explicações. (...) Na verdade, ao atacar a autonomia formal da canção, incluindo uma série de outros elementos no seu interior --encenação, ruídos, referências visuais, cultura de consumo--, o tropicalismo deu ao discurso conceitual um papel construtivo, transformando a música popular brasileira em um campo de cruzamentos onde as coisas estão todas postas em estado de explicação.
Pode-se dizer, portanto, que a partir daí a canção passa a fazer parte de uma polimorfa explicação da cultura. E ao fazê-lo, de forma sempre heterodoxa e dissonante, termina também por explicar o Brasil."
Guilherme Wisnik,
"Folha Explica: Caetano Veloso", 2005
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