1975 - Jóia






1. Minha mulher
(Caetano Veloso)

2. Guá
(Caetano Veloso, Perinho Albuquerque)

3. Pelos olhos
(Caetano Veloso)

4. Asa
(Caetano Veloso)

5. Lua lua lua lua
(Caetano Veloso)

6. Canto do povo de um lugar
(Caetano Veloso)

7. Pipoca moderna
(Caetano Veloso, Sebastião Biano)

8. Jóia
(Caetano Veloso)

9. Help
(J. Lennon, P. McCartney)

10. Gravidade
(Caetano Veloso)

11. Tudo, tudo, tudo
(Caetano Veloso)

12. Na asa do vento
(Luiz Vieira, João do Vale)

13. Escapulário
(Caetano Veloso, Oswald de Andrade) 


Comentários:
Manifesto do movimento jóia

respeito contrito à idéia de inspiração. alegria. saber a calma para ir perder a pressa para estar. inspiração quer dizer: todo esforço em direção a esforço nenhum, nenhum esforço em direção a todo esforço em direção a esforço nenhum. todo esforço em direção a nenhum esforço em direção a todo esforço em direção a nenhum. todo esforço em direção a nenhum esforço em direção a todo esforço em direção a nenhum esforço em direção ao todo.

nenhum círculo é vicioso a ponto de impossibilitar o verde, o aparecimento do verde, a esperança do aparecimento do verde, escrevo livre da insensatez azul e do equilíbrio amarelo.

respeito contrito à idéia de inspiração. jóia. meu carro é vermelho. inspiração quer dizer: estar cuidadosamente entregue ao projeto de uma música posta contra aqueles que falam em termos de década e esquecem o minuto e o milênio.

inspiração: águas de março.

o sexo dos anjos. e não fazemos por menos. 
Caetano Veloso - Release do disco Jóia, 1975
(...) "Jóia", um disco de sons mais limpos, espécie de versão serenizada dos desejos experimentais, também com canções mais curtas. 
A capa do disco "Jóia" me trouxe alguns problemas com a censura. 
Fizemos a foto do disco - eu, Dedé e Moreno - eu e Moreno nus e Dedé usando uma saia de pano cru. Usei a fotografia e pintei em cima com lápis de cor. Pedi ao artista da gravadora para desenhar um pássaro, a ser colocado em cima do meu sexo, para não ficar com a genitália exposta. O resultado ficou suave e familiar, mas fizeram um escarcéu danado, recolheram o disco das lojas e até ameaçaram tirar o Moreno da nossa guarda. Tive que dar explicações à Polícia Federal, juntamente com o André Midani, que dirigia a gravadora. Disse aos censores que a idéia de capa era minha, que ela não tinha nada de ofensivo, não aparecia órgão sexual nenhum. A capa foi recolhida e tivemos que fazer outra, somente branca e com os pássaros espalhados por ela., juntamente com minha assinatura.
  Depoimento a Charles Gavin e Luís Pimentel - Livro "Tantas canções", 2002  
Sobre "Pipoca Moderna":
Em 67 Gil passou um tempo no Recife. De lá ele trouxe o pique para o tropicalismo. Em principalmente uma fita cassete com o som da banda de pífanos de Caruaru. Desde então, a pipoca moderna ficou em nossa cabeça, alguma coisa transando entre ou neurônios, umas joiazinhas de iluminação. De lá até aqui não perdi a esperança. Esses anos. Eu quero cantar palavras cantáveis, encontrar palavras cantáveis. Eu amo a arte de João Gilberto. Em 72, Gil colocou uma gravação da pipoca moderna na primeira faixa do lp que ele fez naquele ano. Nós não perdemos nunca a esperança. Eu venho tentando me abandonar às palavras cantáveis, ocultas aqui ali, desvelar algumas, desvelar-me para elas. Venho sonhando com um canto que seja o som como a visão do visionário. Qual é a da música, afinal? Essas palavras por causa da pipoca dos pífanos merecem meu amor. Não são a realização do meu sonho, mas a prova de que é um bom sonho, esse. Eu estava na varanda de casa na Bahia e Marquinhos Rebucetê mostrou no céu aquela luz que surgiu e cresceu e me meteu medo muito medo e Dedé ficou toda inteira e Márcia ficou tão feliz e tem uma hora que eu agradeço a Deus porque depois vieram as palavras desse canto em mim e talvez seja esse o modo pelo qual meu medo se redime e eu não me perco. Depois de cantar a pipoca moderna eu fiquei inteiro como Dedé e feliz como Márcia e fui o primeiro a ver como Marquinhos Rebucetê. Fui o primeiro a ver essa pergunta luminosa inscrita no céu da boca de quem cante e outro dia Jorge Salomão falou alguma coisa como o "jeca total". Sou feliz na pipoca desse canto e isso é muito firme. Estou inteiro quando há esse canto da pipoca moderna. Eis.

Sobre "Tudo tudo tudo":
Devia ser escrito assim: mmmmmmmmmm / mmmmmmmmmm / mmmmmmmmar, como foi cantado pra ninar Moreno. De algum modo deviam ir surgindo embriões de sílabas até o que finalmente é o texto ganhar forma. Mas não foi escrito nem assim nem assado. Está sendo agora copiado pra que se também pra que se também leia. São bonitas essas músicas onde não há composição contando o que de fato se passou. Só Moreno conhece. O número de repetições é até ele dormir ou ficar de saco cheio de tentar e desistir. O acalanto é uma forma de música muito útil.

Sobre "Guá":
A pessoa que sabe me disse que o meu orixá é ibu-alama. A pessoa que sabe é muito bonita. Essa sílaba ‘gua’ surgiu tantas vezes seguidas e de tal medo se comportou como núcleo desse átomo que eu pensei que ela erra o jeito de se expressar o que eu não sei explicar da relação mítica entre ibu-alama e a água, as águas. Os lugares que eu amo - guamá-belém, iguape-pedrinho-baía de todos os santos, recôncavo de santo amaro, - são elementos qualquer coisa íntimos, desses que só eu sei e tudo é ritmo, tudo é inútil e não deveriamos temer coisa alguma
Opinião da casa:

É um disco lúdico, feliz e solar. Caetano inicia nesses dois projetos a retomada dos discos mais formais de canções. Embora "Jóia" seja basicamente de exploração de sonoridades e frases rítmicas que se encaixem em sons, as canções já aparecem completas. O violão de Gil em "Minha mulher" e o canto árabe dão um tom místico à canção, que abre o disco muito bem. Gosto muito do arranjo de "Pelos olhos", que parece uma luz que vai aparecendo e se escondendo.

"Lua lua lua lua" é notadamente uma das favoritas de Caetano, merecidamente, a sequência de imagens de "vento/canto/tempo" é genial, e assim como "Jóia" foi gravada por Gal no notável álbum "Cantar" (1974), produzido por Caetano . 
Tem "Pipoca moderna" com a qual Gil abriu o seu "Expresso 2222" (1972)  e "Help" dos Beatles em voz e violão.
A capa, remete a capa do disco Unfinished Music nº1: Two Virgins, de John e Yoko. E, por fim, merecem destaque a releitura de "Na asa do vento" e o poema de Oswald, "Escapulário".

PS: tenho um amigo do Rio de que gosto muito e que gosta muito desse disco, então dedico esse post a ele.

4 comentários:

marquinhos disse...

ESTE LINK ESTÁ QUEBRADO

ÁUDIO REMIXADO (2002)
(melhor áudio/takes diferentes)

http://migre.me/cxkfo

Natália disse...

tá fora do ar :s

Anônimo disse...

Esse disco é completamente genial! =)

Anônimo disse...

Baixar. Caetano Veloso – Jóia. 1975
http://www.baixarsomgratis.com/cd-caetano-veloso-joia/
http://new.vk.com/doc267195786_338956528